Jazz em Agosto

A pérola de Lisboa
20 mai 2011

Qualquer festival forma a sua personalidade nos seus primeiros anos, sendo o seu carácter definido pelo seu lugar, a sua programação e o seu público. Um dos festivais a que isto mais se aplica é o Jazz em Agosto, que decorre nesse mesmo mês na capital portuguesa, Lisboa.

Apoiado pela Fundação Gulbenkian, uma das mais ricamente apetrechadas da Europa, o Jazz em Agosto desenrola-se ao ar livre numa das alturas do ano em que o clima é mais ameno. Distribuídos pelos primeiros dois fins-de-semana do mês, os concertos decorrem ao serão sobre um palco montado no parque que acolhe o museu da Fundação, tudo isto inserido num cenário feérico que fica a meio caminho entre uma floresta e um jardim. Em 2009, o trompetista Dave Douglas agradecera ao público por lhe ter permitido tocar num local tão belo. Para além dos sons da música, aqui se ouvem os gritos dos patos vindos de um charco adjacente à cena, secundados pelas lufadas de ar fresco vindas do Oceano que agitam os ramos das árvores.

O festival arrancou de forma modesta em 1984 com uma série de concertos aos serões das Quartas-feiras, sendo a sua programação constituída por artistas locais, entre os quais uma cabeça de cartaz, a cantora Maria João. Já no ano seguinte, os organizadores mostraram-se mais ambiciosos ao não se limitarem a convidar sumidades reconhecidas, privilegiando igualmente a afirmação de músicas mais ousadas. Artistas da categoria de Sun Ra e da sua Arkestra, do Dave Holland Quintet e do Art Ensemble of Chicago constaram das edições subsequentes. Após algumas alterações das suas datas, o festival encontrou a sua janela ideal em pleno período estival. Para além da audácia que subjaz à sua programação, o Jazz em Agosto também propõe alguns enfoques temáticos, entre os quais figuram o jazz de determinados países (o Canadá em 2004, os Estados Unidos em 2006), as homenagens aos grandes (John Coltrane em 2006), os instrumentos (o trompete em 2009), e mesmo os instrumentos graves (em 2007), com um quarteto de tubas e o conjunto de Ornette Coleman acompanhado por três baixistas. Estas escolhas avisadas são as do director artístico, Rui Neves, um homem de visão que sabe dar resposta às exigências de um público obstinado e entusiasta.

Ano após ano, o festival aproveita os seus bons recursos para convidar agrupamentos que é raro tocarem no estrangeiro devido ao volume dos seus efectivos, como por exemplo a Now Orchestra de Vancôver com George Lewis, a OrkestROVA de São Francisco a tocar Ascension de Coltrane, a Otomo Yoshihide New Jazz Ensemble do Japão, assim como a americana Exploding Star Orchestra com o saudoso Bill Dixon. Em 2010, Evan Parker apresentava-se a liderar um conjunto de dezanove músicos, ao passo que o Noreguês Frøde Gjerstad reunia doze improvisadores vindos de todos os continentes na sua Circulasione Totale Orchestra. Este ano entrarão em palco os grandes da vanguarda (Peter Brötzmann, Cecil Taylor e Wadada Leo Smith), tal como o baterista John Hollenbeck e o seu Large Ensemble. Resta assinalar que o festival também inclui concertos entre os dois fins-de-semana (de 5 a 7 e de 12 a 14 de Agosto) que, por seu lado, vão decorrer no Teatro do Bairro, bem no centro de Lisboa. Devido ao seu cenário que tanto convida à visita como enfeitiça o visitante, o Jazz em Agosto é uma experiência musical e turística das mais inesquecíveis!

Stuart Broomer é cronista do boletim Point of Departure e colaborador dos magazines Signal to Noise e MusicWorks.

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