O piano, a espiritualidade, o conflito, vários ciclos na Gulbenkian

A temporada 2017/2018, que esta quinta-feira é apresentada em Lisboa, quer "provocar o público para o consumo pluridisciplinar da música", explica o director do Serviço de Música da fundação, Risto Nieminen.
25 mai 2017

O piano em destaque, em destaque ainda maior do que o habitual na Gulbenkian. Na temporada 2017/2018, terá até direito a festival. É o Pianomania!, para ver em Janeiro, com um programa que traz até Lisboa 30 pianistas de várias gerações, como o consagrado Menahem Pressler, 93 anos, o jovem Daniil Trifonov, de 26, ou a estreia de Beatrice Rana, de 24 anos. Pianomania! inclui-se numa programação temática que incluirá ainda o ciclo Entre o Céu e a Terra, dedicado às diversas formas de procura da espiritualidade por parte dos compositores, e o ciclo Guerra ou Paz, que não é dedicado a Tolstói mas ao quadro maior que a obra do mestre russo ilustra: a procura da Humanidade por paz e harmonia e a sua recorrente queda no conflito armado, na sede de sangue.

Os ciclos organizados tematicamente são uma das novidades da temporada 2017/2018, que será apresentada esta quinta-feira, às 18h30, no Grande Auditório da Gulbenkian, em Lisboa (a entrada é livre). O director do Serviço de Música da fundação, Risto Nieminen, explica que esta organização temática permite “fazer o cruzamento de diferentes abordagens sobre um tema unificado”. E “provocar um pouco o público para o consumo pluridisciplinar da música”, como acontecerá no ciclo Entre o Céu a Terra, onde as Suites para Violoncelos Solo de Bach, interpretadas pelo violoncelista brasileiro Antonio Meneses (9 e 10 de Outubro), conviverão, por exemplo, com a música síria de Waed Bouhassoun (11 de Outubro), a peça Stimming, de Stockhausen, inspirada nas civilizações maia e azteca (12 de Outubro), ou o encontro da meio-soprano Magdalena Kozena com o colectivo de música barroca Private Musicke e a Companhia de Flamenco Antonio El Pipa (8 de Outubro).

Ao mesmo tempo, destaca Nieminen, tais blocos temáticos, concentrados num curto espaço de tempo, permitem complementar os concertos com a exibição de filmes, a organização de conferências ou o encontro com artistas – essa componente da programação será anunciada mais em cima das datas correspondentes. “Os concertos serão diferentes, mas é o tema que unifica.” Nieminen espera que a experiência provoque “algum novo tipo de pensamento”: “Queremos tornar visível a correlação da música com o mundo no qual vivemos e com o nosso próprio mundo interior”.

Pondo em perspectiva toda a programação da nova temporada, o director do Serviço de Música da fundação faz questão de destacar o momento que lhe servirá de apresentação. A abertura, precisamente. Terá lugar nos dias 27, 28 e 29 de Setembro e será protagonizada por O Monstro do Labirinto, ópera com música do britânico Jonathan Dove, inspirada no mito da Antiguidade grega de Teseu e do Minotauro, e projecto iniciado pelo destacado maestro Simon Rattle. Trata-se, classifica Nieminen, de “uma obra inabitual, no sentido em que é uma ópera participativa”. Em palco estarão 300 coralistas, vindos de coros amadores de todo o país, e que não só participação da música, mas também da encenação. Marcada também pela componente multimédia, teve estreia no festival de Aix-En-Provence. Nieminen destaca-lhe a “forte mensagem para a paz e tolerância” e vê a sua produção na Gulbenkian como um “grande desafio”. Recompensador: “Tenho muita expectativa que trará algo de importante.”

Da temporada passada transita o cinema acompanhado de música ao vivo. Completar-se-á a trilogia O Senhor dos Anéis, vista parcialmente em 2016/2017, com O Regresso do Rei (5, 6 e 7 de Janeiro). Recuaremos a um clássico de Hollywood, O Feiticeiro de Oz, de Victor Fleming (8 e 9 de Dezembro), e teremos a oportunidade de viajar pelo universo, através de filmagens no espaço realizadas pela NASA, acompanhados de Os Planetas, de Gustave Holst, Assim Falava Zaratustra, de Richard Strauss, e Short Ride in a Fast Machine, de Robert Ziegler (18 e 19 de Maio, com a Orquestra Gulbenkian dirigida por este último).

 

Quartetos e encomendas

Ao longo da temporada, como habitualmente, a Orquestra Gulbenkian estará muito activa, acompanhando as vozes de Thomas Hampson nas Canções Bíblicas de Dvorák (1 e 2 de Fevereiro) e de Bryn Terfel em várias árias de ópera (4 de Abril) e sendo dirigida por maestros como Lorenzo Viotti, distinguido como maestro revelação do ano pelos International Opera Awards, Ton Koopman, Lawrence Foster, David Afkham, Hannu Lintu ou, claro, Joana Carneiro.

Numa perspectiva de futuro, uma preocupação habitual na programação das temporadas, assinale-se a continuação da colaboração com a Orquestra Juvenil Gustav Mahler, novamente em residência na Gulbenkian e com apresentação marcada para 14 e 15 de Abril. E também esse momento único para os jovens músicos da Orquestra Estágio Gulbenkian (Ego) que acompanharão a prestigiada Royal Concertgebouw, de Amesterdão, na primeira peça do concerto que a orquestra holandesa dará a 21 de Fevereiro.

Começámos o texto a apresentar os ciclos temáticos que pontuarão a nova temporada da Gulbenkian. Falta referir um, o Festival dos Quartetos de Cordas. Nesse âmbito, ouviremos o Cuarteto Casals a interpretar a integral do Quarteto para Cordas de Beethoven (30 de Setembro e 1 de Outubro; 21 e 22 de Março; 24 e 25 de Abril), ouviremos o nova-iorquino Jack Quartet, “o mais activo e experimental quarteto da actualidade”, num recital que estreará uma criação da compositora Andreia Pinto-Correia, radicada em Nova Iorque, outra do austríaco Georg Friederich Haas, e em que ouviremos Tetras, encomenda da Gulbenkian a Iannis Xenakis, em 1983. “Tem a particularidade de ser tocado sem luz, na escuridão total”, revela Risto Nienimem. “Obrigará os músicos a tocar sem verem os outros músicos e sem verem a partitura. É mais um desafio para o Jack Quartet.”

Por fim, refira-se, além das já referidas, as estreias de algumas encomendas da fundação. É o caso de Off-Balance, do compositor português Luis Antunes Pena, de Museu das Coisas Inúteis, do brasileiro Celso Loureiro Chaves (ambos a 23 de Fevereiro), e do concerto para piano de Vasco Mendonça (15 de Junho), todos elas resultado de uma parceria com a Orquestra Sinfónica do Estado de São Paulo.

 

Público – 25 de maio 2017

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