Grigory Sokolov
Chopin e Rachmaninov
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Grande Auditório Fundação Calouste GulbenkianGrigory Sokolov Piano
Fryderyk Chopin
Quatro Polacas:
– Em Dó sustenido menor, op. 26 n.º 1
– Em Mi bemol menor, op. 26 n.º 2
– Em Fá sustenido menor, op. 44
– Em Lá bemol maior, op. 53
Fryderyk Chopin e a dança social romântica: quatro polacas
Fryderyk Chopin (1810-1849) transformou as danças sociais centro-europeias do século XIX, adaptando-as ao contexto do salão, um dos principais espaços de sociabilidade mundana no Romantismo. Dessa forma, estilizou géneros populares e adaptou-os à sofisticação urbana, reconfigurando-os de forma profunda. As valsas, mazurcas e polacas ocuparam as estantes dos pianos das salas da aristocracia e da burguesia, tornando-se omnipresentes.
A afirmação de Chopin deu-se nos salões de Varsóvia, nos quais o pianista e compositor conheceu personalidades com quem travou laços que se revelaram centrais na sua atividade parisiense. Chegado a Paris em 1831, dedicou-se a apresentações privadas e ao ensino no piano. As Polacas op. 26 foram escritas em 1835, quando Chopin era um pianista reconhecido e a sua reputação de compositor se consolidava na capital francesa. Assim, abordou géneros de maior fôlego, transformando miniaturas de salão em obras de grande refinamento harmónico e formal.
A Polaca op. 26 n.º 1 encontra-se numa forma ABA, tendo início com uma introdução tempestuosa e tensa que prepara a entrada da métrica característica da dança. Uma melodia sobrepõe-se ao ritmo regular e vivo, fazendo contrastar um estilo lírico com passagens heroicas e virtuosísticas, cujo percurso é enfatizado pelo cromatismo. A segunda metade da secção B encarna lirismo e placidez e desemboca no regresso das figurações do início da dança.
A Polaca op. 26 n.º 2 começa de forma misteriosa no registo grave do piano, numa atmosfera rarefeita que se materializa progressivamente. A forma tripartida contrasta passagens rápidas e virtuosísticas do início com a verticalidade da secção intermédia, em que pontificam a textura viva de dança e o cromatismo. Após o retorno da secção inicial, a música vai-se dissipando até ao final da obra.
A Polaca op. 44 foi escrita em 1841, num período em que Chopin se dedicava a obras de maior fôlego que empregavam uma abordagem mais orquestral ao piano. A verticalidade da introdução em oitavas reforça o motivo inicial e cede lugar a uma melodia ornamentada com trilos sobre o ritmo da polaca. O contraste entre registos e tonalidades domina o início da peça, sucedida pela ambiguidade e procura da secção intermédia, sublinhada por um movimento constante em que os ostinati são uma repetição enfática do material sonoro. Na polaca, Chopin interpola uma mazurca de grande lirismo, entrecortada por pausas dramáticas que antecipam a aceleração rítmica que prepara um breve regresso da secção inicial.
A Polaca op. 53 é das obras mais conhecidas de Chopin e tem um cariz rapsódico, apesar da recorrência do material inicial. Escrita entre 1842 e 1843, revela um estilo heroico sobre o despojamento do acompanhamento da polaca, reduzido ao essencial. Essas características encontram-se bem patentes no refrão, interpolado por passagens contrastantes, por vezes líricas, por vezes quase percussivas e baseadas em ostinati. O regresso do refrão marca a intensificação da tensão, levando a peça a um final pirotécnico.
João Silva
Sergei Rachmaninov
Dez Prelúdios op. 23
– Largo, em Fá sustenido menor
– Maestoso, em Si bemol maior
– Tempo di minueto, em Ré menor
– Andante cantabile, em Ré maior
– Alla marcia, em Sol menor
– Andante, em Mi bemol maior
– Allegro, em Dó menor
– Allegro vivace, em Lá bemol maior
– Presto, em Mi bemol menor
– Largo, em Sol bemol maior
Os Dez Prelúdios op. 23 de Sergei Rachmaninov
Sergei Rachmaninov (1873-1943) estabeleceu-se como um prolongamento do virtuosismo romântico no circuito de concertos da Europa e dos Estados Unidos da América. As suas obras, altamente influenciadas pelo pianismo do século XIX, fundem uma abordagem concertística e intimista e apresentam um estilo muito pessoal. Rachmaninov misturou melodias modais de sabor tradicional com harmonias inovadoras e passagens virtuosísticas, retratando uma forma particular de melancolia associada à arte russa. No século XX, essas composições foram disseminadas por tecnologias como a gravação fonográfica e a radiodifusão.
Rachmaninov escreveu os Dez Prelúdios op. 23 entre 1901 e 1903, quando se encontrava a superar uma depressão resultante da fraca aceitação da sua primeira sinfonia. Assim o regresso ao piano, com obras como o Concerto para piano n.º 2, op. 18, e os Prelúdios, marcam o fim de um longo bloqueio criativo e o retorno do compositor à vida musical. A escrita lírica e virtuosística do concerto refletiu-se nos Dez Prelúdios op. 23, pequenas miniaturas que evocam a liberdade expressiva associada ao Romantismo. O culto do momento e o lirismo contrastam com peças estruturadas, num mostruário de elementos tardo-românticos.
O 1.º Prelúdio é conduzido pela melodia, que se sobrepõe a um acompanhamento regular em que o cromatismo introduz tensão e resolução. A alternância de perguntas e respostas no amplo registo do piano e o recurso ao rubato são fulcrais. O Prelúdio seguinte evoca o estilo heroico de Chopin, com o virtuosismo e o movimento perpétuo característicos de alguns estudos, contrapondo-o a melodias cantabile. Uma cadência interrompe o movimento e leva a peça ao fim. A dança setecentista domina o 3.º Prelúdio. Numa forma tripartida que estiliza a textura de minueto, apresenta frases periódicas e verticais e recorre ao contraponto como elemento de contraste. O Andante cantabile (4.º Prelúdio) remete para os noturnos românticos, em que uma melodia sinuosa flutua sobre um acompanhamento arpejado. Segue-se o 5.º Prelúdio, uma polaca marcada com recurso a ritmos pontuados, interpolada por uma secção intermédia cantabile. O retorno da textura de dança faz-se de forma discreta e torna-se mais intenso, conduzindo ao clímax. O 6.º Prelúdio caracteriza-se pela tensão resultante do desfasamento entre as longas melodias e o acompanhamento, que difere as resoluções. Um sentimento de desequilíbrio conduz ao 7.º Prelúdio, baseado em poucas notas, em torno das quais o compositor escreveu ornamentos. As ondulações que ornamentam as melodias do 8.º Prelúdio remetem para um mundo sonoro imaterial. Segue-se uma peça que disfarça a melodia principal cromática numa textura vertical a três vozes. Os prelúdios terminam com um momento contemplativo, em que a melodia e acompanhamento seguem desencontrados. A secção intermédia vertical encontra-se impregnada de lirismo e recorre discretamente ao contraponto. A retoma da atmosfera inicial conduz a obra ao fim, numa submersão progressiva e lânguida na melancolia russa.
João Silva
Fryderyk Chopin
Mazurka op. 68 n.º 2
Prelúdio op. 28 n.º 20
Mazurka op. 30 n.º 2
Fryderyk Chopin
Mazurka op. 68 n.º 2
Alexander Scriabin
Prelúdio op. 11 n.º 4
Fryderyk Chopin
Prelúdio op. 28 n.º 20
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Cinquenta e cinco anos depois de ter conquistado o 1.º Prémio no Concurso Internacional Tchaikovsky de Moscovo, aos 16 anos de idade, o mundo musical continua a ser deslumbrado e surpreendido pela arte de Grigory Sokolov, por muitos considerado como o maior pianista vivo. Ao longo da última década, os seus recitais e a sua presença anual na Gulbenkian Música têm-nos concedido o especial privilégio de privar com as superiores qualidades interpretativas de um pianista que acredita que “o palco representa o foco da vida musical”.