Lalique apresenta esta obra, em que pela primeira vez usou o marfim, em 1894, na Secção de Escultura do Salon da Sociedade de Artistas Franceses, talvez por sugestão da sua amiga, a atriz Sarah Bernhardt, que também ali apresentou obras de escultura de sua autoria.

A capa, de consideráveis dimensões, em marroquim verde, destinava-se a guardar partituras musicais. No plano superior, a decoração é constituída por uma grande placa de marfim, esculpida em baixo relevo em que o artista empregou a técnica da tour-à-réduire que também aplicou em muitas outras das suas obras. O tema representado é uma cavalgada de «Valquírias» tendo a placa, no canto inferior direito, a assinatura de Lalique. A emoldurá-la, um revestimento, em prata patinada, é totalmente decorado com motivos de papoilas estilizadas, numa alusão simbólica ao mundo dos sonhos. As flores trabalhadas em formas ondulantes são bem características do espírito da Arte Nova.

Esta capa de música do início da obra de Lalique como artista autónomo, demonstra bem a sua versatilidade ao dominar os mais variados materiais. Calouste Gulbenkian guardava aqui os desenhos da sua Coleção, da autoria de René Lalique.