A mobília de quarto de François-Joseph Talma

Gulbenkian estudou ao pormenor todos os aspetos da residência antes de iniciar os trabalhos de renovação, consultando vários arquitetos e outros profissionais que contribuíram para a transformação do imóvel.
22 dez 2020 2 min
Uma Coleção com Histórias

Quando Calouste Gulbenkian, com 53 anos, adquiriu o hôtel particulier do n.º 51 da Avenue d’Iéna, a avenida ampla, de 36 metros de largura, era habitada por membros da elite, de que faziam parte financeiros e colecionadores. Gulbenkian estudou ao pormenor todos os aspetos da residência antes de iniciar os trabalhos de renovação, consultando vários arquitetos e outros profissionais que contribuíram para a transformação do imóvel.

A decoração dos espaços interiores da casa foi outra das preocupações do colecionador. Além das obras-primas, que incluíam pinturas, esculturas, tapeçarias, livros, peças de mobiliário, entre muitos outros, Gulbenkian adquiriu objetos de uso quotidiano, como foi o caso do mobiliário «Talma», atribuído a Joseph-Marie Bénard (at. c. 1820-c. 1936).

Joseph-Marie Bénard (at. c. 1820-1836), Cadeira (pormenor), c. 1825. Madeira, bronze e tecido. Museu Calouste Gulbenkian
Joseph-Marie Bénard (at. c. 1820-1836), Cama, c. 1825. Madeira, bronze, latão e porcelana. Museu Calouste Gulbenkian

Neste conjunto de peças de mobiliário Restauração, executado em madeira – carvalho, amaranto e mogno –, bronze dourado e latão, incluíam-se uma cama, um camiseiro e um par de cadeiras. Estas peças integravam o quarto de Gulbenkian, que se localizava nos aposentos privados do colecionador, no terceiro andar do imóvel.

Estas peças eram conhecidas por «Talma» por terem pertencido ao prestigiado ator francês François-Joseph Talma (1763-1826). Nascido em França, Talma passou a sua juventude em teatros amadores e fez a sua estreia profissional em 1787 na Comédie Française, no 1er arrondissement, no coração de Paris.

Joseph-Marie Bénard (at. c. 1820-1836), Cómoda, c. 1825. Madeira, bronze, latão e mármore. Museu Calouste Gulbenkian

O ator ficou conhecido pela precisão nos figurinos históricos ao contrário dos habituais trajes contemporâneos usados no teatro da época. Outro dos seus contributos para o teatro foi a adoção de um novo método de declamação, mais realista e menos exagerado, com uma dicção mais moderada.

Por motivos políticos, Talma afastou-se da Comédie Française e fundou o Théâtre de la Republique, produzindo peças clássicas francesas, bem como traduções de Shakespeare. Talma recebeu a admiração da crítica e tornou-se o ator preferido de Napoleão Bonaparte. O ator foi representado por vários artistas, sobretudo encarnando personagens marcantes, como Nero na peça Britannicus de Jean Racine. Retratos do artista podem ser vistos no British Museum, em Londres, no Walters Art Museum, em Baltimore, ou na National Portrait Gallery de Londres.

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Por onde passaram as obras antes de chegarem às mãos de Calouste Gulbenkian? Quem foram os seus autores e os seus protagonistas? Que curiosidades escondem? Descubra nesta série as várias histórias por trás da coleção do Museu.

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