Poder e Aparato. Festas e outras cerimónias em livros franceses do século XVIII

Apaixonado pela arte francesa do século XVIII, Calouste Gulbenkian interessou-se pelos livros editados em França durante esse período, entre os quais podemos destacar um conjunto notável de livros de festas, ou livres de fête. Na seleção que está em exposição, todos os exemplares revelam, seja nas ilustrações gravadas ou nas encadernações, a qualidade artística que Gulbenkian procurou nas suas aquisições.
Destinados a registar, por escrito e em imagens, as cerimónias organizadas por reis, cortes, cidades ou comunidades, os chamados livros de festas conhecem um grande desenvolvimento durante o Antigo Regime, sobretudo entre os séculos XVI e XVIII, até à Revolução Francesa em 1789. Ao descreverem e ilustrarem, em grandes formatos, o fausto das celebrações associadas a nascimentos, coroações, casamentos, viagens ou pompas fúnebres da família real ou de membros da alta nobreza, estes livros assumem-se como veículos de propaganda e de encenação do poder real, contribuindo para a consolidação do Absolutismo em França, de Luís XIV a Luís XVI.


Os exemplares apresentados documentam vários momentos dessa afirmação do poder, em França, na primeira metade do século XVIII. Dois mostram o aparato ligado à coroação e a uma estadia de Luís XV em Estrasburgo. Uma exuberante encadernação assinala o casamento, em 1745, do Delfim Luís Fernando, primeiro filho varão de Luís XV, com Maria Teresa de Bourbon, Infanta de Espanha. O fausto das pompas fúnebres desta princesa, em 1746, transparece na gravura integrada num álbum de Cochin, le Jeune. O livro do segundo casamento do mesmo Delfim, com Maria-Josefa da Saxónia, em 1747, ilustra os luxuosos carros que compunham o cortejo desta celebração.

A rica decoração da encadernação, atribuída a Padeloup, le Jeune, o reputado encadernador de Luís XV, inclui brasões desse monarca e da sua filha Madame Victoire. Estes aspetos reforçam o papel destes livros como símbolos do poder e do aparato da monarquia francesa absolutista.
Ana Maria Campino
Conservadora do Museu Calouste Gulbenkian