Praneet Soi. Terceira Fábrica
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- Encerra à Terça
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Coleção do Fundador – Galerias do Museu e Galeria do piso inferior Av. de Berna, 45A, LisboaUm azulejo enigmático, parte do revestimento do mausoléu de Miran Zain, mãe do 8.º Sultão de Caxemira, Zain-Ul-Abidin (1420-1470), foi o ponto de partida para a instalação do artista Praneet Soi (Calcutá, 1971). Situado nas margens do rio Jhelum, na cidade de Srinagar, o mausoléu data de 1430 e a sua arquitetura aponta para as ligações entre Caxemira e a Ásia Central. O azulejo, com motivo decorativo relevado, vidrado a azul-cobalto, era diferente de tudo aquilo que Praneet Soi alguma vez vira.
O padrão do azulejo foi replicado na Fábrica Bordallo Pinheiro, lugar que para o artista é mais do que um mero centro de produção. Soi documentou em vídeo o processo de fabrico e a dinâmica da fábrica, que passaram a fazer parte da narrativa devolvida ao revestimento cerâmico que agora preenche a parede curva no espaço da exposição e lhe adiciona textura.
A animação, em forma de colagem, comum na imagética de Soi, documenta o jarro de jade da Coleção do Fundador, que passou a fazer parte da narrativa. Esta peça pertenceu aJahangir (1569-1627),monarca mogol que governou Caxemira. A sinalização do jarro de jade no Museu Calouste Gulbenkian ajudou Soi a desenvolver este projeto para o espaço Conversas.
A construção de narrativas para a exposição iniciou-se há mais de um ano, quando Soi foi convidado a conceber o seu projeto, baseado na recorrente exploração de Caxemira. Soi visita Srinagar desde 2009, onde se relaciona com os artesãos locais com o intuito de melhor conhecer esta tão problemática região fronteiriça. Caxemira é o estado mais setentrional da Índia e é, desde 1947, ano em que o subcontinente se libertou do domínio britânico, uma região afetada pelo separatismo. A estrutura recortada em forma de montanha vermelha que se ergue na sala permite a Soi recordar a cordilheira montanhosa de Zabarwan, que se avista de Srinagar.
As visitas frequentes de Soi a Lisboa possibilitaram uma familiaridade com a cidade e permitiram-lhe interiorizar aspetos da sua história e cultura, ao mesmo tempo que as visitas ao Museu possibilitaram o contacto com algumas obras que se encontram nas reservas. Os jogos de luz sobre os tapetes Kum Kapi e um conjunto de moedas sassânidas, extracoleção, são alguns exemplos. Estas vivências foram registadas como se de um diário se tratasse, passando a fazer parte do vídeo projetado no verso da coluna semicircular situada na zona mais afastada da sala. A face semicircular da coluna, incrustada com azulejos coloridos, convida o visitante a entrar no espaço da exposição.
O ambiente aural do espaço da galeria resulta da camada sonora que emana do diorama central, em justaposição com a peça musical concebida pelo compositor e arquiteto David Maranha, que usou os sons registados na fábrica como ponto de partida para esta colaboração.
O título Terceira Fábricafaz referência à obra do formalista russo Víktor Shklovski (1893-1984), na qual identifica três períodos que marcaram a sua formação enquanto escritor. Praneet Soi tomou o tempo que passou em Srinagar, nas Caldas da Rainha e em Lisboa como ponto de partida operativo, utilizando o espaço e a transformação que se produz a partir da projeção do vídeo sobre as superfícies arquitetónicas enquanto exercício multiplicador de pontos de chegada e de partida no contexto do seu objeto de trabalho.
Soi instalou-se nos Países Baixos em 2002 para frequentar a Rijksakademie van Beeldende Kunsten, no âmbito de um programa internacional de residência artística de dois anos, e atualmente divide o seu tempo entre Amsterdão e Calcutá. Este movimento, entre as duas cidades, tem influenciado a sua prática artística, que envolve uma continuada identificação de padrões resultantes das suas investigações sobre uma ampla e diversificada paisagem social e económica.
Praneet Soi nasceu em Calcutá em 1971. Em 1990 deixou Bengala para estudar pintura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade Maharajah Sayajirao, em Baroda, na costa ocidental do país. A liberalização das políticas económicas da década de 1990 introduziu uma nova era de globalização, e, depois de concluir o bacharelato e o mestrado, Soi trabalhou como desenhador na indústria publicitária de Nova Deli. Em 1999 partiu para San Diego, nos Estados Unidos, onde frequentou a Universidade da Califórnia como bolseiro e completou o seu segundo mestrado em artes visuais. Em 2001 foi selecionado para a residência artística de Verão em Skowhegan, no estado do Maine.
Em 2002 instalou-se nos Países Baixos para frequentar a Rijksakademie van Beeldende Kunsten, no âmbito de um programa internacional de residência artística de dois anos, e atualmente divide o seu tempo entre Amsterdão e Calcutá. Este movimento, entre as duas cidades, tem influenciado a sua prática artística, que envolve uma continuada identificação de padrões resultantes das suas investigações sobre uma ampla e diversificada paisagem social e económica. Na Califórnia foi a natureza miniaturizada do vasto e diferenciado panorama suburbano que atraiu a sua atenção.
Em Amesterdão, a cobertura mediática dos tumultos que agitaram o Médio Oriente, o Paquistão e o Afeganistão na sequência dos atentados de 11 de setembro inspiraram-lhe uma série de pinturas miniaturais sobre o terrorismo, que por sua vez conduziram a representações pictóricas do corpo humano. Realizou ainda pinturas murais site-specifica partir das mesmas fontes, num processo contínuo de investigação que o levaria a criar um arquivo da sua relação com os meios de comunicação.
Iniciado em 2008, o seu trabalho de documentação das pequenas fábricas e oficinas de Kumartuli, no norte de Calcutá, continua em curso. Kumartuli é, historicamente, um centro de olaria tradicional com uma importante produção de escultura e iconografia religiosa, que com o tempo deu origem a micro oficinas e armazéns. As políticas inerentes à transição laboral e económica manifestam-se numa série de trabalhos intitulados «Notes on Labour» [Notas sobre a mão-de-obra], envolvendo slideshows, pintura miniatural e vídeos, mediante os quais Soi desenvolve uma representação pluralista deste centro histórico complexo, que é ainda relevante nos nossos dias.
Em 2010, Soi visitou pela primeira vez a cidade de Srinagar, em Caxemira, documentando extensivamente os históricos altares sufis da cidade (Dastagir Pir foi, entretanto, destruído por um incêndio e está em vias de reconstrução) e estabelecendo contacto com diversos artesãos locais. Regressou a Srinagar na Primavera de 2014 para trabalhar no estúdio de um artesão, integrando padrões e motivos tradicionais em composições de carácter experimental. Marcada por movimentos insurgentes, pela questão politicamente sensível da rivalidade entre a Índia e o Paquistão e pelos conflitos de uma população etnicamente dividida há mais de cinco décadas, Caxemira tem sofrido o impacto de uma privação cultural e económica que decorre do facto de ser umas das regiões mais militarizadas do mundo.
Durante o período em que trabalhou em Caxemira, Soi dedicou-se a explorar os vestígios cada vez mais ténues da cultura Sufi, bem como o fenómeno associado à migração de antigos padrões e formas culturais do Irão para o subcontinente indiano, um processo que ocorreu ao longo da história. O tema da migração, presente nos trabalhos que desenvolveu em Caxemira, reflete talvez o exílio da sua própria família, oriunda de uma região que se tornou parte do Paquistão aquando da divisão do país em 1947. O seu avô migrou para Deli antes de se estabelecer definitivamente em Calcutá, em 1950.
Os meios interativos são importantes para Soi. Concebeu «máquinas de desenho» que lhe permitem partilhar o seu processo de trabalho com o público. As suas «Máquinas Astáticas», inspiradas pelos «Esquissos Pedagógicos» que Paul Klee compilou para os seus alunos da Bauhaus, enfatizam a importância do desenho na prática do artista. Em parceria com a Fundação Mondrian, Soi estabeleceu recentemente em Calcutá uma residência piloto para artistas e desenhadores. Trata-se de um programa de estúdio que privilegia uma abordagem material à criação artística, ao mesmo tempo que utiliza como filtro as experiências da própria cidade.
Em maio de 2017 foi inaugurada no Museu Bhau Daji Lad, em Mumbai, a sua exposição individual «Notes on Labour», que integra trabalhos realizados ao longo dos anos mais recentes, bem como uma instalação site-specific. Em 2016, Soi participou nas bienais de Kochi-Muziris e de Singapura e expôs trabalhos no âmbito do espaço-projeto do Van Abbemuseum, em Eindhoven. Em 2015 recebeu uma bolsa do Smithsonian Institution para estudar os manuscritos iluminado nos acervos das Freer and Sackler Galleries, Washington DC. Em 2014 foi artista residente da Stiftung Laurenz Haus, em Basileia.
Praneet Soi está representado em diversas importantes coleções da Europa e da Índia, entre as quais se destacam as coleções permanentes do Van Abbemuseum (Eindhoven), do Kiran Nadar Museum of Art (Nova Deli), do Irish Museum of Modern Art (Dublin) e do Stedelijk Museum (Amsterdão). Em 2014 foi convidado a criar uma obra permanente para a sede da empresa Hindustan Computers Limited, em Chennai. Em 2011 foi um dos quatro artistas que representaram a Índia na Bienal de Veneza. Em maio de 2017 foi artista residente do Irish Museum of Modern Art, tendo investigado as coleções mogóis do Chester Beatty Museum com vista a uma exposição que seria inaugurada no final desse mesmo ano no Centre for Contemporary Art de Derry, Irlanda do Norte.
Curadoria: João Carvalho Dias
Programação complementar
À conversa com o curador João Carvalho Dias e o artista Praneet Soi
Sábado, 23 junho, 16:00
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À conversa com o artista, curador e colaboradores
Sábado, 22 setembro, 16:00
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Visitas para grupos mediante marcação prévia
Marcações para visitas guiadas:
217 823 800
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