Manto de Nuvens. Kesa Japonês

Comemorações dos 450 Anos da Chegada dos Portugueses ao Japão

Exposição itinerante de arte sacra asiática, com destaque para os mantos «kesa» japoneses e chineses. Fundamentais para a tradição do budismo, contextualizaram a cultura zen, acompanhados por outros objetos artísticos do século II ao XX. Este importante acervo foi exposto em Lisboa no ano em que se comemoraram 450 anos da chegada dos Portugueses ao Japão.
Travelling exhibition of Asian sacred art showcasing the Japanese and Chinese “kesa” blanket. Essential to the Buddhist tradition, the blankets contextualised the Zen culture, together with other art objects from the second to the twentieth century. This significant collection was staged in Lisbon the year of the 450-year commemorations of the arrival of the Portuguese in Japan.

«Manto de Nuvens. Kesa Japonês» foi uma exposição itinerante provinda do Musée National des Arts Asiatiques – Guimet (MNAAG). A Association pour l'Étude et la Documentation des Textiles d'Asie, integrada nesse museu parisiense, teve um papel fundamental na coordenação científica do projeto. Fundada e presidida pela historiadora e colecionadora indiana Krishna Riboud (1926-2000), essa associação tinha a seu cargo uma notável coleção de têxteis orientais, entre eles os 22 kesa que figuraram como elemento central da mostra, datados entre o século XVIII e princípios do XX (Le Petit Journal des Grandes Expositions…, n.º 241, 1991). Trata-se de requintados mantos religiosos cujas raízes culturais remontam aos primórdios do budismo, na Índia (Ibid.). Quatro deles eram oriundos da China, justamente a civilização que elegeu a seda como material destes têxteis e que os levaria até ao Japão – país donde provém a maioria dos kesa apresentados nesta mostra.

O roteiro pelos contextos históricos, religiosos e etnográficos destes objetos monásticos era sublinhado por outras peças de escultura, pintura e têxtil, pertencentes ao acervo do MNAAG, e originárias de vários pontos da Ásia Central e Extremo Oriente. Provinham das já referidas regiões da Índia, China e Japão, mas também do Afeganistão, de onde chegava uma escultura do século III d.C. representando dois monges budistas. Uma estela indiana representando Buda, datada dos séculos II-III d.C., foi a mais antiga entre as peças catalogadas.

Em França, a exposição estreou no Musée des Tissus de Lyon, onde ficou patente entre dezembro de 1991 e março de 1992 (Manteau de Nuages…, 1993). Só daí seguiria para o MNAAG, instituição que a concebera, e onde terá estado em exibição entre 13 de novembro de 1992 e 15 de fevereiro de 1993 (Manteau de Nuages. Kesa Japonais [Jornal de exposição], 1991).

A possibilidade de uma itinerância para Lisboa surge por intermédio de um contacto estabelecido em Paris por José Blanco, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) (Carta de José Blanco para Jean Paul Desroches, 25 jun. 1992, Arquivos Gulbenkian, CAM 00286). José Blanco coloca Jean-Paul Desroches, conservador chefe do MNAAG, em contacto com Maria Teresa Gomes Ferreira, diretora do Museu Calouste Gulbenkian (MCG), que transmite a proposta a José Sommer Ribeiro, diretor do Centro de Arte Moderna (CAM) da FCG. À data, o CAM aglutinava já as funções do extinto Serviço de Exposições e Museografia da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), que era igualmente dirigido por Sommer Ribeiro, ficando agora incumbido da produção e montagem da maioria das exposições temporárias da Fundação.

Neste caso em particular, o processo adivinhava-se exigente e laborioso, dada a fragilidade dos têxteis – cenário que se agudizou com a revisão das medidas de conservação e restauro para a apresentação do acervo em Lisboa. Recomendava-se a exposição dos mantos em painéis inclinados a 30°, por forma a distribuir o peso dos tecidos sem danificar as fibras. Também a iluminação teria de obedecer a critérios muito específicos, com a intensidade inicial de 70 lux a diminuir para 50 lux, e a ter de ser direcionada com o maior rigor (Ofício de Jean-Paul Desroches para Maria Teresa Gomes Ferreira, 8 abr. 1993, Arquivos Gulbenkian, CAM 00286). Márie-Hélène Guelton, museógrafa do MNAAG, pôde dar o seu contributo para o cumprimento destes critérios.

Pensada inicialmente para a Galeria de Exposições Temporárias do MCG, a exposição acabaria por ser instalada na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG, de forma a solucionar as necessidades de espaço levantadas pelos mantos, bem como as exigentes necessidades da montagem.

A inauguração ocorreu a 28 de julho de 1993, tendo contado com a presença de Jean-François Jarrige, então diretor do MNAAG, e da própria Krishna Riboud, principal dinamizadora do projeto. Por sua vez, Jean-Paul Desroches, ausente do evento inaugural, proferiria uma conferência intitulada «Kesa, Vêtement de Renonciation», a 11 de outubro de 1993, no Auditório 3 da Sede da FCG. Nela pôde explanar alguns aspetos que tinha deixado expressos nos textos que assina no jornal de exposição, redigidos com a colaboração da escritora checa Vera Linhartová. Essa publicação, originalmente editada em francês pela Réunion des Musées Nationaux, mereceu uma versão editada pela FCG em que, à tradução portuguesa dos referidos textos, se juntou uma introdução institucional em que se destacava a coincidência da realização desta mostra com as comemorações dos 450 anos da chegada dos portugueses ao Japão (Manto de Nuvens. Kesa Japonês [Jornal de exposição], 1993).

Embora seguindo de perto a configuração do seu homólogo francês, o jornal de exposição da Gulbenkian cataloga apenas a seleção de 37 obras do total de 38 listadas para a mostra no MNAAG, prescindindo ainda de um núcleo de pintura religiosa apresentada nas Galeries du Panthéon Bouddhique (Petit Journal…, n.º 241, 1991).

Segundo a documentação consultada, a conferência de Desroches terá sido a principal atividade paralela à exposição, muito embora os Arquivos Gulbenkian guardem também uma proposta de atividade gizada por Carl Zimmerling, membro da Associação Zen Internacional. Essa organização tinha participado num ciclo de conferências aquando da apresentação da exposição em Paris. Zimmerling propunha agora uma nova conferência e um dia de meditação zazen, para uma aproximação ao uso ritual dos kesa. Infelizmente, estima-se que a FCG não pôde atender a essa iniciativa (Arquivos Gulbenkian, CAM 00286).

O dia 24 de setembro de 1993 é outra data a reter, uma vez que a mostra recebeu a visita do presidente da República Portuguesa, Mário Soares, na companhia do rei de Marrocos, Hassan II (Nota interna do Gabinete da Presidência da FCG para José Sommer Ribeiro, 16 set. 1993, Arquivos Gulbenkian, CAM 00286).

A exposição em torno dos kesa e da tradição religiosa e filosófica que eles representam teve bastante eco jornalístico e contou com um prolongamento até 24 de outubro (Nota interna de Maria Fernanda Passos Leite para José Sommer Ribeiro,7 set. 1993, Arquivos Gulbenkian, CAM 00286).

Um contacto do Archeology & Museum Association (Veneza, Itália) indicia vontades de continuação da itinerância europeia a partir de Lisboa, eventualidade que a documentação disponível não permitiu confirmar (Arquivos Gulbenkian, CAM 00286).

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Eventos Paralelos

Conferência / Palestra

Kesa. Vêtement de Renonciation

11 out 1993 – 11 out 1993
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal
Visita oficial

[Manto de Nuvens. Kesa Japonês]

24 set 1993
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria Principal / Galeria Exposições Temporárias (piso 0)
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

José Sommer Ribeiro (à esq., ao centro))
Maria Teresa Gomes Ferreira (ao centro)
José Blanco (à esq., ao centro)
José Blanco (à dir.)
Maria Teresa Gomes Ferreira, Roberto Gulbenkian e José Sommer Ribeiro (à esq.), Maria Rosa Figueiredo (à dir.)

Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00286

Pasta com documentação referente à produção da exposição itinerante. Contém ofícios trocados com o Musée des Arts Asiatiques – Guimet (Paris, França) e restantes parceiros organizadores. Incluem-se as informações relativas a seguro e transportes. Guarda os jornais de exposição, tanto o editado para a Fundação Calouste Gulbenkian, como o que tinha sido publicado por altura da primeira apresentação da mostra no Musée Guimet. Contempla ainda material gráfico para promoção da inauguração, bem como da conferência proferida por Jean-Paul Desroches (conservador-chefe do MNAAG) no decurso da mostra de Lisboa. Termina com recortes de imprensa, tanto da portuguesa como da francesa. 1992 – 1994

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03083

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém informações de seguros e transporte de obras, material gráfico, catálogos, recortes de imprensa e lista de convidados para o jantar dado por ocasião da inauguração da exposição. 1993 – 1993


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