Uma Tradição Secular. Bordados do Império Otomano à Índia, Séc. XVIII-XIX

Exposição de bordados orientais pertencentes à Coleção do Fundador, organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian. Esta mostra apresentou um lado mais íntimo do colecionador Calouste Sarkis Gulbenkian e proporcionou ao visitante uma oportunidade de vislumbrar um conjunto de peças raramente vistas.
Exhibition of Eastern needlework belonging to the Founder’s Collection and organised by the Calouste Gulbenkian Foundation. The show presented a more intimate side of the collector Calouste Sarkis Gulbenkian, granting the visitor a glimpse of this rarely seen set of works.

Exposição temporária e coletiva de bordados orientais pertencentes à Coleção do Fundador, realizada pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e apresentada na Galeria de Exposições Temporárias do Museu Calouste Gulbenkian.

Esta mostra, composta por um conjunto de 43 peças de tamanhos variáveis, datadas dos séculos XVIII e XIX, revelou pela primeira vez ao público um lado menos conhecido do colecionador Calouste Sarkis Gulbenkian, a do apreciador de bordados orientais, que, por razões de conservação e programação do Museu, têm permanecido nas reservas da instituição «desde que a colecção chegou à Fundação nas décadas de 50 e 60» (Gaspar, Público, 13 out. 2003).

Os bordados expostos, reveladores de «uma especial artesania no bordado do algodão do linho com fios de seda e de materiais dourados e prateados», não surgiram de nenhuma herança familiar, mas sim de aquisições feitas por Calouste Gulbenkian – tal como aconteceu com a restante coleção – no mercado de arte a que habitualmente recorria, nomeadamente através de compras nas mais importantes leiloeiras mundiais, como as casas Christie's e Sotheby's (Uma Tradição Secular. Bordados do Império Otomano à Índia, Séc. XVIII-XIX, 2003).

A oportunidade de apresentar este conjunto de peças ocorreu na mesma altura em que a Fundação Calouste Gulbenkian recebeu a 20.ª Assembleia Geral do CIETA – Centre International d'Étude des Textiles Anciens, a qual foi responsável pela reunião de um conjunto de importantes especialistas e estudiosos dos têxteis antigos e que, de acordo com o presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Emílio Rui Vilar, constituiu «uma oportunidade e um estímulo para aprofundar […] investigações e debates» (Uma Tradição Secular. Bordados do Império Otomano à Índia, Séc. XVIII-XIX, 2003).

Estas peças – na sua maioria originárias da Turquia otomana, local de nascimento de Calouste Sarkis Gulbenkian (1869-1955) – surgem de contextos quotidianos, o que facilitou a criação de uma ligação com o público. Entre peças de indumentária, como «um xaile, um lenço e um véu», ou peças ligadas ao lar, como «coberturas para almofadas, uma alcatifa de estrado e coberturas de espelho», esta mostra remeteu para uma produção têxtil secular, reveladora de um lado mais intimista do gosto do colecionador Calouste Gulbenkian, oferecendo ao mesmo tempo «uma lição de história aos visitantes» (Gaspar, Público, 13 out. 2003).

Segundo Inês Baptista, no artigo que redigiu para o Diário de Notícias: «Apesar de serem, maioritariamente, de uso doméstico, as peças destinavam-se à decoração e a "alguns hábitos mais requintados de receber".» (Baptista, Diário de Notícias, 14 out. 2003)

Maria Fernanda Passos Leite, conservadora do núcleo de têxteis do Museu Calouste Gulbenkian, defendeu que a exposição, apesar de possivelmente encontrar uma maior adesão por parte do público feminino, se destinava «aos visitantes em geral», pelo facto de apresentar «peças que têm muito a ver com o património dos enxovais e das casas de qualquer país» (Gaspar, Público, 13 out. 2003).

Entre o final do século XVIII e o início do século XIX, o bordado adquiriu uma importante função decorativa nos lares das casas da Turquia, da Arménia e da Síria, muito devido à escassez de peças de mobiliário. A obra Voyage Pittoresque de Constantinople et des Rives du Bosphore – cedida pela Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian – esteve também em destaque nesta exposição, ilustrando a «presença do bordado no mundo otomano, onde o espaço para comer, dormir ou rezar era o mesmo e a diferença era marcada com o uso de tapetes, tecidos ou almofadas» (Gaspar, Público, 13 out. 2003).

De acordo com o artigo publicado no jornal O Dia, este conjunto de peças, «de longa tradição e da maior importância cultural e económica», criou um diálogo com «outros núcleos da colecção, principalmente com o notável conjunto de sedas e veludos dos séculos XVI e XVII, também de proveniência turca, patentes nas galerias do museu» («Bordados do Império Otomano à Índia», O Dia, 30 out. 2003).

Além da sua função decorativa, o bordado era prova do estatuto social ou económico daqueles que o exibiam: as peças mais trabalhadas e de maiores dimensões eram associadas a famílias mais abastadas; as peças mais simples eram ligadas aos meios rurais e populares.

Esta exposição contou com o apoio do Textile Museum, de Washington D.C., quer na sua elaboração, quer no catálogo. A Fundação Calouste Gulbenkian apoiou-se na «Flowers of Silk and Gold», exposição patente no Textile Museum entre 18 de fevereiro e 30 de julho de 2000, a qual apresentou uma seleção de bordados do período otomano (fabricados para uso doméstico e para vestuário), testemunhos da beleza e delicadeza associadas a estas peças.

Maria Fernanda Passos Leite, comissária da exposição, estabeleceu contacto com Jennifer Wearden, curadora do departamento de têxteis do Victoria & Albert Museum, em Londres, e responsável pelas tapeçarias orientais, a fim de obter ilustrações dos interiores das casas otomanas, tendo havido uma entreajuda entre as duas instituições, com vista ao estudo dos bordados da época otomana.

O catálogo da exposição – editado pela FCG – apresenta a reprodução fotográfica das peças que fizeram parte desta iniciativa, acompanhadas por pequenos textos explanatórios sobre a sua origem, o seu uso, o modo de fabrico, os motivos vegetalistas combinados com outros motivos ligados à vida quotidiana da época, os diferentes tipos de pontos utilizados, entre outras curiosidades. A publicação é apresentada pelo presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Emílio Rui Vilar, e pelo diretor do Museu Calouste Gulbenkian, João Castel-Branco Pereira, contando ainda com uma introdução elaborada por Maria Fernanda Passos Leite.

Com o intuito de complementar esta mostra, o Serviço Educativo do Museu organizou uma série de visitas guiadas à exposição, coordenadas por Maria Deolinda Cerqueira, Isabel Maria Oliveira e Maria do Rosário Azevedo.

Para o público visitante, esta exposição serviu como «um complemento não menos importante da colecção de têxteis otomanos habitualmente exposta na colecção permanente na sala dedicada à Arte do Oriente Islâmico» (Uma Tradição Secular. Bordados do Império Otomano à Índia, Séc. XVIII-XIX, 2003).

Devido ao êxito que obteve em Lisboa, a exposição, que inicialmente deveria estar patente até 29 de fevereiro de 2004, foi prolongada até 11 de abril daquele ano.

Joana Atalaia, 2018


Ficha Técnica


Coleção Gulbenkian

Cinta (uçkur)

Desconhecido

Cinta (uçkur), Inv. 1395E

Cinta (uçkur)

Desconhecido

Cinta (uçkur), Inv. 1442

Cinta (uçkur)

Desconhecido

Cinta (uçkur), Inv. 1443

Cinta ou Écharpe (?)

Desconhecido

Cinta ou Écharpe (?), Inv. 1463

Cobertura / Alcatifa de Estrado

Desconhecido

Cobertura / Alcatifa de Estrado, Inv. 1429

Cobertura de espelho (?)

Desconhecido

Cobertura de espelho (?), Inv. 1395B

Cobertura de espelho (?)

Desconhecido

Cobertura de espelho (?), Inv. 1438

Cobertura para Almofada

Desconhecido

Cobertura para Almofada, Inv. 1498

Cobertura para Almofada (?)

Desconhecido

Cobertura para Almofada (?), Inv. 1467

Cobertura para almofadas (?)

Desconhecido

Cobertura para almofadas (?), Inv. 1462

Lenço (?) (çevre)

Desconhecido

Lenço (?) (çevre), Inv. 1464

Mostruário de pontos

Desconhecido

Mostruário de pontos, Inv. 1465

Mostruário de pontos

Desconhecido

Mostruário de pontos, Inv. 1466

Painel para Calças

Desconhecido

Painel para Calças, Inv. 1396A

Painel para Calças

Desconhecido

Painel para Calças, Inv. 1396B

Painel para Calças

Desconhecido

Painel para Calças, Inv. 1396C

Painel para Calças

Desconhecido

Painel para Calças, Inv. 1396D

Painel para Calças

Desconhecido

Painel para Calças, Inv. 1396E

Painel para Calças

Desconhecido

Painel para Calças, Inv. 1396F

Painel para Calças

Desconhecido

Painel para Calças, Inv. 1396G

Painel para Calças

Desconhecido

Painel para Calças, Inv. 1396H

Painel para Calças

Desconhecido

Painel para Calças, Inv. 1396K

Painel para Calças

Desconhecido

Painel para Calças, Inv. 1396L

Painel para Calças

Desconhecido

Painel para Calças, Inv. 1396M

Painel para Calças

Desconhecido

Painel para Calças, Inv. 1396N

Painel para Calças

Desconhecido

Painel para Calças, Inv. 1396O

Painel para Calças

Desconhecido

Painel para Calças, Inv. 1396P

Painel para Calças

Desconhecido

Painel para Calças, Inv. 1396J

Painel para Calças

Desconhecido

Painel para Calças, Inv. 1396I

Tecido de veludo

Desconhecido

Tecido de veludo, Inv. 1437

Toalha de Banho

Desconhecido

Toalha de Banho, Inv. 1395F

Toalha de Banho (havlu)

Desconhecido

Toalha de Banho (havlu), Inv. 1397

Toalha de Mãos (Yaglik)

Desconhecido

Toalha de Mãos (Yaglik), Inv. 1394A

Toalha de Mãos (Yaglik)

Desconhecido

Toalha de Mãos (Yaglik), Inv. 1394C

Toalha de Mãos (Yaglik)

Desconhecido

Toalha de Mãos (Yaglik), Inv. 1394B

Toalha de Mãos (Yaglik)

Desconhecido

Toalha de Mãos (Yaglik), Inv. 1395C

Toalha de Mãos (Yaglik)

Desconhecido

Toalha de Mãos (Yaglik), Inv. 1439

Toalha de Mãos (Yaglik)

Desconhecido

Toalha de Mãos (Yaglik), Inv. 1441

Toalha de Mãos (Yaglik)

Desconhecido

Toalha de Mãos (Yaglik), Inv. 1395A

Toalha de Mãos (Yaglik)

Desconhecido

Toalha de Mãos (Yaglik), Inv. 1395D

Toalha de Mãos (Yaglik)

Desconhecido

Toalha de Mãos (Yaglik), Inv. 1440

Túnica

Desconhecido

Túnica, Inv. 1469

Véu (?)

Desconhecido

Véu (?), Inv. 1494

Xaile

Desconhecido

Xaile, Inv. 1514


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

João Castel-Branco Pereira, Emílio Rui Vilar, Maria Fernanda Passos Leite e Maria José Ritta (da esq. para a dir.)
Emílio Rui Vilar, Maria José Ritta e Maria Fernanda Passos Leite (da esq. para a dir.)
Maria Fernanda Passsos Leite (à esq.), Maria José Ritta (ao centro, esq.) e Isabel Alçada (ao centro, esq.) e Emílio Rui Vilar (centro, dir.), João Castel-Branco Pereira (dir.)
José Blanco (à esq.),Emílio Rui Vilar (ao centro), Maria José Ritta (à dir)
Maria Fernanda Passsos Leite (à esq.), Maria josé Ritta (à dir.) e Emílio Rui Vilar (atrás, dir.)
Maria José Ritta (à esq.), Emílio Rui Vilar (ao centro)
Emílio Rui Vilar (à esq.), João Castel-Branco Pereira (centro, dir.) e José Blanco (dir.)
Maria Fernanda Passos Leite, Maria José Ritta, Emílio Rui Vilar, João Castel-Branco Pereira (da esq. para a dir.)

Multimédia


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03278

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém recortes de imprensa, comunicados para a imprensa, correspondência interna e externa, e textos para catálogo. 1994 – 2004

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03279

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, maquetes das tabelas da exposição e CDVD com informações sobre os objetos e a exposição. 2003 – 2003


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