XXII Bienal de São Paulo. Representação Portuguesa – Pedro Cabrita Reis

Bienal Internacional de São Paulo

Representação portuguesa na XXII Bienal de São Paulo, por intermédio da obra de Pedro Cabrita Reis (1956). A exposição, que foi comissariada por José Sommer Ribeiro, anterior diretor do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, apresentou a instalação «A Sala dos Mapas», e foi um êxito.
The Portuguese exhibit at the 22nd São Paulo Biennial formed of the installation “Map Room/Atlas Coelestis” by Pedro Cabrita Reis (1956). The well-received exhibition was curated by José Sommer Ribeiro, former director of the José de Azeredo Perdigão Modern Art Centre.

A presente exposição marca a representação portuguesa na 22.ª edição da Bienal de São Paulo, para a qual foi selecionado o artista Pedro Cabrita Reis (1956) com a instalação A Sala dos Mapas (da série Atlas Coelestis). A exposição esteve patente de 12 de outubro a 11 de dezembro de 1994, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, casa da Fundação Bienal de São Paulo, situado no Parque Ibirapuera, projeto do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer.

O tema da 22.ª Bienal de São Paulo, intitulado «Ruptura com o suporte», permitiu a exploração de novas plataformas e linguagens, desenvolvidas por artistas como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Mira Schendel. Ao todo, a Bienal contou com a presença de 206 artistas, oriundos de 70 países, representados por 972 obras.

José Sommer Ribeiro, diretor do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), foi designado, por despacho conjunto do subsecretário de Estado da Cultura e do subsecretário de Estado adjunto do ministro dos Negócios Estrangeiros, comissário português da 22.ª edição da Bienal de São Paulo. Neste sentido, coube a Sommer Ribeiro a escolha do artista e da obra que representaria Portugal, assim como a responsabilidade de assegurar todas as tarefas necessárias à concretização da exposição no Brasil.

A escolha de Pedro Cabrita Reis surgiu na sequência de exposições do artista na Europa e nos Estados Unidos da América, que contribuíram para a legitimação da sua carreira internacional. A presença de Cabrita Reis na Documenta IX de Kassel, em 1992, na qual participou com a escultura Rio, constituiu também um momento de grande importância.

Apesar de na Bienal apenas ter estado patente a instalação A Sala dos Mapas, os organizadores optaram por incluir no catálogo a reprodução de todas as obras que integravam, até ao momento da sua edição, a série Atlas Coelestis, permitindo assim uma visão global desta fase do trabalho de Cabrita Reis.

A instalação selecionada, concebida inicialmente para o Museu de José Malhoa, de Caldas da Rainha, foi um dos seis trabalhos que constituíram a série Atlas Coelestis, que, segundo Alexandre Melo, reivindica para o artista a função de aferidor do universo. Dois outros trabalhos desta série – Sistema de Constelações (1994) e Posto de Observação (1994) – puderam ser observados na mostra que o CAMJAP dedicou a Pedro Cabrita Reis em 1994, intitulada «Pedro Cabrita Reis. Contra a Claridade».

O título da série em que se integra A Sala dos Mapas alude ao atlas estelar da autoria do astrónomo John Flamsteed, publicado pela primeira vez em 1729. O Atlas Coelestis que inspirou Cabrita Reis constitui o maior catálogo de estrelas observáveis por telescópio, reunindo um conjunto de 26 mapas celestes, visíveis a partir de Greenwich, com observações de Flamsteed e desenhos de James Thornhill.

A série de Cabrita Reis surge na sequência direta da série Echo der Welt, caracterizando-se, segundo Alexandre Melo, «formalmente por uma valorização mais sistemática da utilização do vidro e pela integração de elementos reportáveis a práticas de medição em sentido amplo ou, mais precisamente, de cartografia ou astronomia – grandes vidros circulares que nos podem fazer pensar em lentes gigantes, uma craveira, estiradores e rolos de papel, um "posto de observação"» (Portugal. XXII Bienal de São Paulo, 1994).

O trabalho apresentado na Bienal é uma reflexão sobre o modo como o homem perceciona o mundo desde tempos imemoriais e como aprendeu a orientar-se nele – usando o seu próprio corpo como escala: palmo, braço, polegada, pé –, algo que se encaixa na necessidade que o artista tem de habitar o espaço, dominando-o, e que é uma constante na sua prática artística, visível já nas séries Casas e Hospitais. Do corpo, que é a escala, o conhecimento passa a ser registado no papel, permitindo comparar distâncias que o corpo sozinho já não consegue, focando-se agora na localização do ser no universo, a partir do interior: «Um lugar no universo já não é um ponto de um corpo potenciado que é o nosso. Saber inteligir-lhe as coordenadas é agora um estado de melancolia. Ver por dentro.» (Reis, 22.ª Bienal de São Paulo. Catálogo Geral, 1994, p. 352)

Entendida por Cabrita Reis como instrumento de um conhecimento que é buscado por via da alegoria, a melancolia opõe-se à nostalgia na medida em que, alheia a um sentimento de lamentação ou impossibilidade, resulta de um exercício de introversão e de uma atitude de recusa em relação ao mediático e ao exterior, substituindo a compreensão do mundo através da análise pela metáfora.

Independentes de qualquer significado a que o nome ou a análise crítica lhes possa atribuir, as obras de Cabrita Reis vivem autonomamente graças ao poder da sua presença monumental e, ao mesmo tempo, minimalista, que, nas palavras de Alexandre Melo, «preservam uma espessura de complexidade, ambiguidade e mistério que impedem a sua conversão a qualquer discurso da banalidade quotidiana e as transformam em ensejos de uma experiência específica de conhecimento e em instâncias de ruptura com as convenções que dominam a percepção vulgar do mundo» (Portugal. XXII Bienal de São Paulo. Pedro Cabrita Reis, 1994).

Jorge Molder, já diretor do CAMJAP em 1994, acompanhou Pedro Cabrita Reis na 22.ª Bienal de São Paulo, participando na qualidade de artista convidado, com os conjuntos fotográficos Insomnia (1992), The sense of sleight-of-hand man (1993-1994) e Por aqui quase nunca ninguém passa (1994).

Nelson Aguilar, curador-geral da Bienal de São Paulo, revelaria em correspondência trocada com Pedro Cabrita Reis, que ele era o artista preferido pela curadoria daquela Bienal, o que, aliado ao facto de ter sido também nomeado para representar Portugal, constituía «uma das raras convergências que acontecem na vida» (Carta de Nelson Aguilar para Pedro Cabrita Reis, 3 mai. 1994, Arquivos Gulbenkian, CAM 00328).

A adesão do público brasileiro e internacional ao trabalho de Cabrita Reis ficaria registada numa carta de Suzanna Sassoun para Sommer Ribeiro: «É um prazer ver a sua instalação sendo visitada e admirada pelo público em geral. A 22.ª Bienal tem contado com mais de 8000 visitantes por semana e está sendo um grande sucesso.» (Carta de Suzanna Sassoun para José Sommer Ribeiro, 28 out. 1994, Arquivos Gulbenkian, CAM 00328)

No âmbito deste evento, a Fundação Bienal de São Paulo realizou um vídeo que convidava à submissão de trabalhos de artistas brasileiros e estrangeiros e que contou com a participação de Edemar Cid Ferreira, presidente da Fundação, Ciccillo Matarazzo, fundador da Bienal de São Paulo, e Paulo Maluf, prefeito da cidade de São Paulo. Neste vídeo, a Bienal é divulgada como a mais estimulante mostra de arte contemporânea do mundo, lugar de reunião dos mais importantes artistas do panorama contemporâneo internacional, realizada naquela que é considerada a capital cultural da América Latina.

Carolina Gouveia Matias, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Edemar Cid Ferreira (sentado), Pedro Paulo da Sena Madureira (à esq.) e Jens Olesen (à dir.)
Vão central da «22ª Bienal de São Paulo» com vista para as obras «Ambiente Spaziale al Neon» de Lucio Fontana, «Potemkinsche Dörfer» de Asta Gröting, e «White River» de Richard Long

Multimédia


Documentação


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00328

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém regulamento da XXII Bienal Internacional de São Paulo, desdobrável informativo, correspondência interna e externa e textos para o catálogo. 1992 – 1994

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 07134

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém concessão de subsídios. 1994 – 1994


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