A Natureza Amazónica e o Índio do Xingu

Exposição de cariz etnográfico que abordou a importância das comunidades amazónicas e a preservação da fauna e flora locais. Apresentando fotografias de António de Bacelar Carrelhas (1937) e Dudu Tresca (1949), esta mostra surgiu como atividade complementar de uma digressão de conferências do etnólogo e sertanista Orlando Villas-Bôas, em Portugal.
Ethnographic exhibition exploring the importance of the Amazonian peoples and the preservation of indigenous fauna and flora. Presenting photographs by António de Bacelar Carrelhas (1937) and Dudu Tresca (1949), the show arose as a complementary exercise to a tour of conferences in Portugal by the ethnologist and sertanista (expert on the north-eastern region of Brazil) Orlando Vilas-Bôas.

No final de 1988, o etnólogo e sertanista brasileiro Orlando Villas-Bôas (1914-2002) deslocou-se a Portugal para proferir quatro conferências sobre o índio do Xingu. Começando na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), a digressão seguiria para as Universidades de Évora e Coimbra e para a Casa de Mateus, em Vila Real (em articulação com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) (Projeto, 26 jun. 1988, Arquivos Gulbenkian, INT 02219).

Através do Serviço Internacional e do Serviço de Belas-Artes, a FCG apoiaria a vinda de Villas-Bôas a Portugal, auxiliando na organização da totalidade da sua estadia entre 26 de novembro e 8 de dezembro de 1988 (Carta de Pedro Tamen para António de Bacelar Carrelhas, 28 out. 1988, Arquivos Gulbenkian, SBA 15587).

É no âmbito da preparação desse ciclo de conferências que é solicitada ao Serviço de Exposições e Museografia a montagem da exposição «A Natureza Amazónica e o Índio do Xingu». Inauguraria a 28 de novembro de 1988, no Hall da Zona de Congressos da Sede da FCG (piso 01), «prevista como complemento da conferência que irá pronunciar o etnólogo brasileiro Orlando Villas-Bôas, naquele mesmo dia, no Auditório 2 da Fundação» (Nota do Serviço de Belas-Artes, 30 jun. 1988, Arquivos Gulbenkian, SEM 00404).

De caráter documental, a mostra reunia um total de 59 fotografias de António de Bacelar Carrelhas (1937) e Dudu [Eduardo] Tresca (1949), todas exaltando o ecossistema da Amazónia e a interação das comunidades indígenas com a fauna e a flora locais (A Natureza Amazónica…, 1988). Além do financiamento do projeto, coube à FCG custear a produção da exposição, garantindo as ampliações fotográficas e a montagem nos painéis expositivos.

A epistolografia demonstra que foi o próprio Bacelar Carrelhas quem desempenhou o papel de organizador de toda esta série de eventos, tendo inclusivamente ficado responsável pela redação de textos de contextualização que seriam impressos no breve catálogo de exposição. A partir da Câmara Portuguesa do Comércio de São Paulo (CPCSP), da qual era então presidente, Carrelhas manteve uma constante articulação com Pedro Tamen, administrador da FCG, que culminou no sucesso muito significativo de todo o programa de conferências em itinerância pelas referidas cidades portuguesas. O mesmo já se tinha feito no Brasil com a iniciativa do mesmo cariz que a precedera e da qual tinha já sido um dos patrocinadores. Num telex para Pedro Tamen, Carrelhas adianta uma afluência de cerca de 150 participantes em São Paulo e 350 em Santos, referindo uma «excelente receptividade no meio universitário» (Carta de António Carrelhas para Pedro Tamen, 17 out. 1988, Arquivos Gulbenkian, SBA 15587).

De relembrar que todo este projeto foi realizado durante o chamado processo de «redemocratização do Brasil». A estadia de Villas-Bôas em Portugal e os eventos que lhe estiveram associados ocorreram pouco depois do estabelecimento da nova Constituição Brasileira, a 5 de outubro desse ano de 1988. Esse novo texto constitucional, surgido no decurso da deposição da ditadura militar (1954-1985), veio apresentar importantes alterações ao estatuto do índio brasileiro, um dos temas quentes de então, abordado logo no Artigo 1.º da nova legislação (Carta de António Carrelhas para Pedro Tamen, 20 out. 1988, Arquivos Gulbenkian, SBA 15587).

Toda essa conjuntura – ligada à relevância cultural e académica do tema – conduziu a uma aturada cobertura por parte da imprensa, não apenas noticiando-a, mas acompanhando-a criticamente.

Também na articulação com a comunicação social, merece destaque o papel de Bacelar Carrelhas. Além de redigir um comunicado de imprensa (8 nov. 1988, Arquivos Gulbenkian, SBA 15587) que foi amplamente divulgado por vários órgãos noticiosos (integralmente ou com adaptações), publicaria ainda um extenso artigo no periódico Semanário (Carrelhas, Semanário, 29 out. 1988, pp. 60-62). Promoveu também contacto e a cedência de material à Rádio Televisão Portuguesa (RTP), na pessoa do jornalista José Manuel Barata-Feyo, relação que a FCG agilizaria institucionalmente (Carta de António Carrelhas para Pedro Tamen, 12 out. 1988, Arquivos Gulbenkian, SBA 15587).

Além da documentação associada à produção desta série de eventos, os Arquivos Gulbenkian reúnem ainda o texto integral de Carrelhas para a abertura de cada conferência, bem como importantes materiais fotográficos que registam Villas-Bôas em convivência com as comunidades indígenas. Constam ainda ampliações originais das conferências proferidas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, cedidas pelo Diário de Coimbra e pelo Jornal de Coimbra.

Hoje, «A Natureza Amazónica e o Índio do Xingu» poderá constituir uma fonte crucial para mapear o modo como a antropologia tem estudado o índio do Brasil e as conturbadas idiossincrasias que esse processo histórico tem acarretado, durante o colonialismo e depois dele.

Na Fundação Calouste Gulbenkian, exposição e conferências decorreram simultaneamente à exposição «A Arte e o Sagrado. Colecção João Marino», périplo pela arte sacra do Brasil do período da colonização portuguesa.

Daniel Peres, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Ciclo de conferências

[A Natureza Amazónica e o Índio do Xingu]

1988
Universidade de Coimbra (UC)
Coimbra, Portugal
1988
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD)
Vila Real, Portugal
1988
Universidade de Évora (UE)
Évora, Portugal
28 nov 1988 – 3 dez 1988
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 2
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Ciclo de conferências «A Natureza Amazónica e o índio do Xingu»
Ciclo de conferências «A Natureza Amazónica e o índio do Xingu»
Ciclo de conferências «A Natureza Amazónica e o índio do Xingu»

Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 05702

Pasta com documentação referente a apoios solicitados pelo etnólogo brasileiro Orlando Villas-Bôas, com vista à produção de vários ciclos de conferências, em parceria com diversas universidades portuguesas. Daí resultaria também a realização da exposição «A Natureza Amazónica e o Índio Xingu». 1987

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 15587

Pasta com documentação referente às conferências realizadas pelo etnólogo brasileiro Orlando Villas-Bôas na Fundação Calouste Gulbenkian e Universidades de Évora, Vila Real [atual, Universidade de Trás-os-Montes], digressão da qual resultaria também a realização da presente exposição. 1987

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / INT 02219

Pasta com documentação referente à digressão de conferências do etnólogo brasileiro Orlando Villas-Bôas na Fundação Calouste Gulbenkian e Universidades de Évora, Vila Real [atual, Universidade de Trás-os-Montes], digressão da qual resultaria também a realização da exposição «A Natureza Amazónica e o Índio Xingu». 1988 – 1989

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/002/02-D00377

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 1988 – 1989


Exposições Relacionadas

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