A exposição «Calouste. Uma vida, não uma exposição», organizada na Galeria de Exposições Temporárias (piso 01) do Edifício Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (designada em 2019 como Galeria do Piso Inferior), inaugurou no dia 23 de março de 2019, dia em que se completava o 150.º aniversário do nascimento de Calouste Sarkis Gulbenkian (1869-1955), homem de negócios, colecionador de arte e filantropo de origem arménia, nascido em Üsküdar, Istambul, e fundador da instituição que recebeu o seu nome. Para assinalar a efeméride, a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) promoveu um vasto programa de atividades, no qual se incluía esta exposição, e que teve início no mês de janeiro de 2019 com o lançamento da biografia O Homem mais Rico do Mundo. As Muitas Vidas de Calouste Gulbenkian, de Jonathan Colin.

Com curadoria de Paulo Pires do Vale, professor, ensaísta e curador, a mostra, com abertura a 24 de março e encerramento no dia 31 de dezembro de 2019, permitia explorar o mundo de Calouste Sarkis Gulbenkian, através da seleção de um conjunto de objetos, documentos e memórias que permitiam criar «uma viagem à volta dos vestígios que uma existência deixa» (Belanciano, Público, 23 jan. 2019, p. 36).

A exposição reuniu um conjunto diversificado de peças, compreendendo objetos pessoais, diários, agendas, cartas e outra documentação, registos fotográficos, exemplares da biblioteca particular de Calouste Gulbenkian, livros e catálogos, sobre temas relacionados com o seu percurso de vida, ou referências à coleção de arte que foi construindo e da qual esteve patente a sua última aquisição, Rua de Saint-Vincent em Montmartre, de Lépine (Inv. 2387), e uma escultura em basalto, representando um leão deitado, datada do período ptolomaico, que integrou o grupo de 33 obras oferecidas por Calouste Gulbenkian ao Museu Nacional de Arte Antiga, em 1952.

O projeto curatorial da exposição, «um percurso pela história do que foi Calouste e do que deixou para as gerações seguintes» (2019, um ano para celebrar Calouste, 2019, p. 11), subvertia o encadeamento causal dos factos e as memórias da figura retratada, deixando ao visitante a liberdade de «assumir um papel ativo na construção dessa vida, num caminho que se fará da frente para trás, do mais próximo para o mais antigo – uma linha, como que um labirinto que percorre o mundo que separa Lisboa de Istambul e terá uma narrativa com as suas histórias, as suas suspensões e, também, as suas falhas» (Ibid.).

O percurso expositivo, da responsabilidade do curador, iniciava-se no átrio junto às escadas de acesso à galeria de exposições, na Zona de Congressos da FCG (um local de passagem do público, que dava acesso a outras atividades da Fundação), onde foram instalados painéis com ecrãs exibindo testemunhos recolhidos em vídeo, nos quais diversas pessoas, entre as quais colaboradores, bolseiros e visitantes, «contam a sua história – ou as estórias de como Calouste acabou por mudar as suas vidas» (Newsletter FCG, n.º 207, mar. 2019, p. 12). Ao entrar nas salas de exposição, a disposição dos objetos, do equipamento museográfico e dos suportes de texto reforçavam a ideia central do projeto curatorial, a de apresentar a narrativa de trás para a frente. O discurso expositivo, de forte pendor biográfico, começava por evocar o dia da morte de Calouste Gulbenkian – com a apresentação do telegrama que a sua filha, Rita Essayan, enviara ao irmão, Nubar Essayan, no dia 20 de julho de 1955, com a notícia da morte do pai – e terminava na sala onde se evocava a sua infância e as suas raízes arménias. Com o auxílio de um friso cronológico que percorria as paredes das salas, o visitante ia acompanhando as datas marcantes da vida de Gulbenkian. Esta mesma linha cronológica foi replicada no verso do cartaz da exposição (gratuito), para que o visitante levasse consigo um exemplar, que, na frente, tinha a particularidade de apresentar a reprodução de «um retrato do próprio Gulbenkian como se tivesse sido concebido por Andy Warhol» (Belanciano, Público, 23 mar. 2019, p. 36)

Ao longo do percurso expositivo, saía-se «do contexto do senhor Gulbenkian para se entrar no universo mais intimista de Calouste, o homem que apesar de ter sido o mais rico do mundo, sempre fugiu da exposição. “Tinha um lado de reserva, de segredo e recolhimento que não passava por expor-se”. Esta era, portanto, uma “exposição impossível”, explica Pires do Vale. Fazendo das fragilidades forças, o curador optou por pegar nessa “contradição” e utilizá-la “logo no título”» (Newsletter FCG, n.º 207, mar. 2019, p. 12).

No âmbito da programação associada, realizaram-se visitas guiadas, muitas asseguradas pelos colaboradores do Serviço de Educação do Museu Calouste Gulbenkian, outras orientadas quer pelo curador, Paulo Pires do Vale, quer pelo diretor do Programa Comunidades Arménias da FCG, Razmik Panossian. Entre estas últimas, destaca-se a realizada no âmbito da visita oficial à FCG do presidente da República da Arménia, Armen Sarkissian, no dia 9 de abril de 2019.

A Fundação Calouste Gulbenkian promoveu igualmente, no âmbito das comemorações dos 150 anos do nascimento do seu Fundador, o concurso «Quem é Calouste?», dirigido a jovens entre os 15 e os 25 anos, para apresentação de projetos criativos (de música, artes visuais, texto ou filme) sobre a personalidade de Calouste Gulbenkian. Os prémios foram entregues numa cerimónia realizada no Grande Auditório da FCG, no dia 23 de março, tendo o primeiro lugar sido atribuído ao trabalho desenvolvido por um grupo de alunos do curso de Artes Visuais da Escola Secundária Francisco de Holanda, em Guimarães.

De referir ainda que a Academia das Ciências de Lisboa se associou ao programa das comemorações, organizando, a 22 de outubro de 2019, uma conferência pública intitulada «Les Enclos – O sonho Gulbenkian de um jardim na Normandia», proferida pela arquiteta paisagista Cristina Castel-Branco.

A exposição foi recebida com entusiasmo por parte da comunicação social, que contribuiu bastante para a programação associada às comemorações dos 150 anos do nascimento de Calouste Sarkis Gulbenkian. Dos muitos artigos publicados em periódicos (imprensa e digital), encontram-se identificadas 120 referências no dossiê de imprensa associado à mostra (Dossiê de imprensa, 2019, Arquivos Gulbenkian, ID: 139024).

Do conjunto de artigos relacionados com a exposição e com as iniciativas a ela associadas, destacamos os textos publicados no Diário de Notícias (21, 22 e 23 mar. 2019), no Jornal Económico (23 mar. 2019), na Visão (24 jan., 22 e 23 mar. 2019), no Mundo Português (20 jan. e 22 mar. 2019) e na revista Up (28 fev. 2019), bem como os artigos de Maria Costa, no jornal O Diabo (22 mar. 2019), de José Pedro Castanheira, no Expresso (9 fev. 2019), de José Mário Leite, no Jornal Nordeste (5 fev. 2019), de Elsa Furtado, na revista online Canela & Hortelã (21 mar. 2019), e de Luís M. Faria, no Expresso (2 fev. 2019), dedicado ao lançamento editorial da biografia de Gulbenkian.

São igualmente de assinalar, no Público, uma entrevista e um artigo independente assinados por Isabel Salema, um artigo de Miguel Bandeira Jerónimo e a crónica de Pedro Paulo de Azeredo Perdigão (Público, 25 e 26 jan. 2019), e, no Jornal i, a crónica de Eduardo Oliveira e Silva (30 jan. 2019).

No âmbito da divulgação das atividades associadas aos 150 anos do nascimento de Gulbenkian, a notícia difundida pela agência Lusa foi divulgada nos jornais O Jogo (23 mar. 2019), O Minho (23 mar. 2019), Mundo Português (21 mar. 2019), Público (13 fev. e 23 mar. 2019), Observador (21 e 22 mar. 2019), Notícias ao Minuto (21 e 22 mar. 2019), Visão (21 mar. 2019), JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias (16 jan. 2019), Correio da Manhã (21 e 23 mar. 2019) e Diário de Notícias da Madeira (22 mar. 2019).

A mostra teve igualmente cobertura televisiva e radiofónica, tendo sido divulgada regularmente na RTP, SIC, TVI e Porto Canal, e em diversas estações de rádio, nomeadamente a TSF, a Renascença, a Antena 1 e a Antena 3, nas quais integrou a programação diária ou marcou presença em programas temáticos, entre os quais se destaca o magazine cultural As Horas Extraordinárias, da RTP3, cuja edição do dia 23 de outubro foi gravada no espaço da exposição, na Fundação Calouste Gulbenkian. No dia 1 de março de 2019, a BBC Sounds transmitiu o programa «Calouste Gulbenkian. The Architect Of Middle East Oil», que contou com a participação de Martin Essayan, bisneto de Gulbenkian, Jonathan Conlin, autor da biografia publicada no início de 2019, e o historiador Joost Joncker.

Isabel Falcão, 2022