Trois Fois Rien

Iniciativa «Trois Fois Rien»

Projeto comissariado por António Contador (1971) e organizado em três momentos expositivos, de periodicidade anual, realizados em 2012, 2013 e 2014. Com o objetivo de atingir os públicos mais jovens, foram apresentados trabalhos de três diferentes tipologias de expressão artística: vídeo/filme, performance e instalação.
Project curated by António Contador and held in three instalments at one-year intervals: 2012, 2013 and 2014. Aimed at a younger audience, the works fell into three artistic categories, namely video/film, performance art and installation.

Organizadas pela Fondation Calouste Gulbenkian – Delégation en France, em Paris, as exposições inseridas no projeto «Trois Fois Rien» envolveram cinco artistas, que exibiram os seus trabalhos em três momentos expositivos. As mostras foram comissariadas pelo artista e investigador franco-português António Contador.

Com o objetivo de «atingir os públicos mais jovens e integrados nos circuitos da arte contemporânea da cidade», em cada uma das três edições foi abordada a prática artística contemporânea através de diferentes tipos de expressão: vídeo/filme, performance e instalação (Relatório e Contas. FCG. 2013, 2014, p. 218).

A primeira edição de «Trois Fois Rien», intitulada «Voisinages», decorreu de 24 de novembro a 15 de dezembro de 2012 e incluiu os trabalhos videográficos de Zoé Chantre (1981), Aya Koretzky (1983) e Éléonore Saintagnan (1979), apresentados no âmbito de uma «pequena exposição experimental» (Relatório e Contas. FCG. 2012, 2013, p. 227).

Segundo António Contador, os vídeos tinham em comum a mesma forma despojada e íntima de revelar planos, objetos e personagens, estabelecendo assim uma cumplicidade com o espectador, pela normalidade dos temas representados: «Les corps, visages, gestes et paysages sont ordinaires et livrés comme tells: dans leur répétition mais aussi dans leur quotidienneté changeante et inapprivoisable. Quotidienneté dévoilée comme un territoire dans lequel la répétition des gestes, des postures, des paroles et des saisons ne mène au final à rien.» (Dossiê de imprensa, 2012, p. 4, Arquivos Gulbenkian, ID: 129591)

Nesta edição, Aya Koretzky apresentou Yama No Anata – Para além das Montanhas (2011), documentário vencedor do prémio Melhor Média ou Curta-Metragem portuguesa no DocLisboa de 2011. O filme revela a ida de Koretzky, e de seus pais, para o centro de Portugal, onde se instalam depois de terem saído da cidade de Tóquio. Num registo autobiográfico, a realizadora e os pais recordam momentos do tempo passado no Japão, reconstituídos através de material fotográfico, cartas e filmes caseiros. Foi também este o cenário que deu o mote para a curta-metragem Terror Japonês (Histoires de fantômes japonais), correalizada em 2006 com Miguel Clara Vasconcelos, e na qual alguns parentes da artista narram fantasiadas histórias de horror.

Na mesma edição, Zoé Chantre exibiu Tiens-moi droite (2011), focado em aspetos particulares da sua condição física que lhe causaram constrangimentos ainda em jovem. A realizadora começou por desenhar essa história como um registo do seu dia-a-dia, acabando por compilar um livro e mais tarde usar esse material para o filme. Para este projeto, Chantre utilizou apenas uma pequena câmara e um computador.

Além do filme, a artista francesa apresentou o livro Projections Privées (carnet de route) (2008), escrito em parceria com Alexandra Pianelli, e cinco fotografias lenticulares (Photos de Familles) resultantes do projeto Projections Privées, realizado entre 2006 e 2008. Para este trabalho, Zoé Chantre privou com famílias de aldeias da comuna francesa de Auberive, no departamento de Haute-Marne, com as quais organizou sessões de cinema. Nessas sessões eram tiradas duas fotografias de uma família, que depois eram transformadas numa única imagem lenticular. Foi ainda apresentado o livro Confidences de Boutons (2006), coligido também em colaboração com Pianelli, que reúne histórias contadas por diferentes pessoas a partir de botões de vestuário.

No filme de Éléonore Saintagnan, Un film abécédaire (2010), os habitantes de aldeias do parque natural regional de Ballons des Vosges são as personagens da sua própria história filmada. Entre a ficção e o documentário, Saintagnan vai apresentando retratos desses aldeãos, homenageando as suas formas de felicidade, os seus mitos e os seus deuses. A artista apresentou também Les Malchanceux (2012) e a curta-metragem Les Petites Personnes (2003), documentários rodados, respetivamente, nos departamentos de Pas-de-Calais (região de Hauts-de-France) e Ardèche (na região de Auvergne-Rhône-Alpes). No primeiro filme, a organização de um torneio de um jogo em vias de extinção (quilles) serve de mote para a leitura de uma região desertificada e dos poucos habitantes que ainda aí residem, enquanto em Les Petites Personnes o microcosmo criado por três jovens irmãs vai sendo revelado através de brincadeiras infantis e deveres de adultos.

Em 2013, a segunda edição de «Trois Fois Rien», inaugurada a 19 de outubro, foi constituída por uma performance de Julie Béna (1982), em colaboração com António Contador, partindo da vida de Manuel Alvess (1939-2009), artista português que residiu em Paris. A performance, intitulada simplesmente «S», remetendo, assim, para o S acrescentado ao apelido do artista, partiu da ideia da reconstrução de uma memória de Manuel Alvess através de boatos e diálogos que se misturam a relatos da sua obra, esta mantida em segredo ao longo da vida do pintor. A saída do anonimato para o grande público aconteceu apenas em 2008, quando a Fundação de Serralves lhe dedicou uma exposição retrospetiva, alguns meses antes de o artista plástico falecer.

«S» partiu do diálogo que António Contador e Julie Béna estabeleceram durante meses sobre Manuel Alvess, sem Béna alguma vez travar conhecimento com a imagem ou a obra do artista. Durante esta troca, Julie Béna teve conhecimento de uma história sobre implantação de memórias falsas por médicos em combatentes de guerra, criando falsos rumores através da repetição narrativa dos mesmos acontecimentos fictícios. Transposta para a performance de Julie Béna e António Contador, à vida factual de Manuel Alvess foram misturados boatos, repetidos incessantemente. «De nos dialogues aveugles, nous avons bâti une histoire mêlant rumeurs et souvenirs d'Alvess. L'histoire courte qui en découle tel un mantra sera répétée. Son redoublement engendrera l'effilochage de certaines parties de l'histoire, puis de l'ensemble de la trame, jusqu'à ne laisser apparent que l'essentiel.» (Béna & Contador, S [Performance])

A terceira edição de «Trois Fois Rien» apresentou uma instalação de Charlotte Seidel, inserida na programação da «Nuit Blanche», a 4 de outubro de 2014, evento que acontece anualmente em vários locais de Paris e que propõe uma nova visão da cidade através de um percurso que contempla instalações, performances, exposições e concertos.

A exposição de Catherine Seidel ocupou vários espaços do número 39 do Boulevard de la Tour-Maubourg, morada da Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France, com os trabalhos Somewhere in the crowd there's you (2011), Nothing ever happened (2014) e Illusions sur cour (2010). Dispostos num espaço amplo e escuro de várias divisões, os trabalhos criavam tensões com o espectador, nomeadamente Somewhere in the crowd there's you, instalação que consistia num único foco de luz programado para percorrer os vários quartos, ou Nothing ever happened, registo em vídeo com a duração de quase quatro minutos de dois copos cheios de água, unidos através de uma gota que acaba por cair.

A SIC Notícias divulgou a terceira edição do projeto, inserindo-a num conjunto de iniciativas de artistas portugueses integrado na «Nuit Blanche», evento que contou com a participação de Vhils (1987) e Catherine da Silva.

Sobre a exposição, o comissário disse à SIC Notícias: «A Charlotte Seidel trabalha a partir de uma observação fina, de coisas que talvez passem despercebidas, e ela transcreve essa observação por meio de vídeos ou instalações que são também presenças ténues. Os vídeos e a instalação com focos de luz apontam para uma presença frágil e esse espírito corresponde àquele que eu queria desenvolver com a Fundação Gulbenkian para estes três momentos.» («Vhils e vários artistas portugueses na Noite Branca de Paris», SIC Notícias, 1 out. 2014)

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Performance «S», de António Contador. Pom Pom Girls
Performance «S», de António Contador. Julie Béna, Pom Pom Girls & Boys de l'ECE/Paris e António Contador
Performance «S», de António Contador. Pom Pom Girls & Boys de l'ECE/Paris e António Contador
Performance «S», de António Contador. Julie Béna e Pom Pom Girls & Boys de l'ECE/Paris
Performance «S», de António Contador. Julie Béna, Pom Pom Girls & Boys de l'ECE/Paris e António Contador
Performance «S», de António Contador. António Contador
Performance «S», de António Contador. Julie Béna e Pom Pom Girls & Boys de l'ECE/Paris
Performance «S», de António Contador. Julie Béna e Pom Pom Girls & Boys de l'ECE/Paris
Performance «S», de António Contador. Pom Pom Girls & Boys de l'ECE/Paris
Performance «S», de António Contador. Julie Béna, Pom Pom Girls & Boys de l'ECE/Paris e António Contador

Multimédia


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Website / Recurso online

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-Délégation en France, Paris) 2012

Website / Recurso online

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-Délégation en France, Paris) 2013

Website / Recurso online

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-Délégation en France, Paris) 2014


Exposições Relacionadas

Langages. Entre le dire et le faire

Langages. Entre le dire et le faire

2013 / Centre Culturel Calouste Gulbenkian; Fondation Nationale des Arts Graphiques et Plastiques; École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, Paris

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.