Recordações de Guerra. João Cutileiro

Exposição individual de João Cutileiro (1937-2021), centrada na temática dos Guerreiros, à qual o artista regressa três décadas depois dos primeiros ensaios. No Hall do Centro de Arte Moderna, o visitante era surpreendido por dez figuras monumentais construídas em mármore, posicionadas linearmente e parecendo bloquear a sua passagem. A mostra promovia o debate sobre o conflito armado.
Solo exhibition of work by João Cutileiro (1937) on the theme “Guerreiros” (“Warriors”), revisiting the subject three decades after the first works were produced. Staged in the Hall of the Modern Art Centre, ten striking monumental figures in marble were positioned in a line as though blocking the visitors’ path. The show encouraged debate on armed conflict.

Esta mostra ocupou o Hall do Centro de Arte Moderna (CAM), estendendo-se ao Jardim Gulbenkian, onde foi instalada a peça Recordações de Guerra (1991), que dava título à exposição.

Entre 1963 e 1969, João Cutileiro (1937-2021) produz pequenas estatuetas e grandes esculturas em poliéster, pó de bronze, fibra de vidro, ferro e mármore, que representam figuras humanas com lança e escudo, e recebem o nome de Guerreiros. As formas variam de acordo com o material usado, havendo figuras esguias, que lembram algumas esculturas de Giacometti, e outras de maior robustez, que alcançam dois metros de altura. Em 1989, o artista retoma esta temática, decisão que o próprio justifica do seguinte modo: «Não consigo deixar de ligar a minha vontade de fazer guerreiros à forma de governação deste Governo e do prof. Cavaco Silva. Fiz muitos guerreiros durante a guerra de Angola, em 63, 64, durante o auge da guerra. Tenho a impressão, através da imagem televisiva do primeiro-ministro e da sua governação, que parece que estamos em guerra. Uma guerra de Poder.» (Sousa, Diário de Notícias, 1 abr. 1990) Algumas destas peças, intituladas Securitas, compondo uma série, foram dadas a conhecer, em 1990, na exposição antológica da sua obra escultória, que teve lugar na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG.

Alguns meses após a referida mostra, a paz mundial é ameaçada pela crise do Golfo. Como relata José Sommer Ribeiro no texto para o folheto, até então «tudo fazia crer que finalmente se iria pensar nos problemas mundiais da fome [e] na preservação da natureza, caminhando-se assim para um mundo melhor. […] Em Janeiro a guerra começa […]. São desse período conturbado “Os Guerreiros” de João Cutileiro» (Recordações de Guerra. João Cutileiro, 1991).

O Hall do CAM foi «ocupado» por dez dos guerreiros de Cutileiro. Figuras em mármore, construídas através de empilhamento e aglomeração de blocos de pedra de diferentes formatos, com marcas de corte e desbaste, e posicionadas linearmente, lembrando a infantaria da Idade Média. Com mais de três metros de altura, protegidas com máscaras, armaduras e elmos, e empunhando espadas, bastões e lanças, estas personagens pareciam barrar a passagem dos visitantes.

A propósito desta exposição, Alexandre Pomar afirma, no seu artigo para o Expresso: «Juntos, os guerreiros voltam a lembrar que a escultura em Portugal tem hoje um nome; depois, há discípulos, há promessas. Tal como voltam a mostrar, aos catecismos vários, que a escultura, a estatuária até, sem capotes oficiais e sem rotinas de escola, é ainda possível (mas raríssima!), em objectos feitos com invenção e com gozo partilhável.» (Pomar, Expresso, 20 abr. 1991, p. 12)

Com esta mostra, que remetia para a guerra e seus horrores, o CAM promovia o debate sobre os conflitos armados da atualidade.

A obra Recordações de Guerra, integrada na coleção do CAM, permaneceu no Jardim até agosto de 2009.

Mariana Roquette Teixeira, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

João Cutileiro (1937-2021)

Recordações de Guerra, 1991 / Inv. 91E491

João Cutileiro (1937-2021)

Recordações de Guerra, 1991 / Inv. 91E491


Publicações


Fotografias


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM-S005/01/01-P0110

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa)


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