Exposição temporária e coletiva onde foram apresentados 34 artistas, num total de 195 obras, entre 101 gravuras e 94 matrizes, numa iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), através do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, em estreita colaboração com o casal Mindlin. Inaugurada a 25 de setembro de 1993, esteve patente no piso 01 da Sede da FCG até 3 de novembro do mesmo ano, data do seu encerramento. Na sequência da exibição em Lisboa, o desejo de José Mindlin seria a apresentação da mostra no Brasil.

A singularidade desta exposição passou pela apresentação das matrizes das gravuras pertencentes à coleção do casal Mindlin, constituindo uma oportunidade rara, que pretendeu mostrar ao público a complexidade do artista gravador. A sua coleção de matrizes (cerca de 350) foi em parte apresentada em Lisboa, e havia estado anteriormente na posse de Julio Pacello, importante editor de arte brasileiro, falecido em 1977, e cuja viúva, Lia Cesar Pacello, presenteou o casal Mindlin com o espólio de matrizes.

Comissariada por Sérgio Pizoli e José Mindlin, o conjunto de gravuras e matrizes apresentados demonstrou o caráter eclético da coleção, percorrendo as diversas dinâmicas do século XX na gravura brasileira, como Pizoli afirma no catálogo: «[…] com a coleção de José E. Mindlin […] é possível percorrer os rumos que a gravura contemporânea vem atravessando: da xilo popular, ingénua, aos experimentos fortemente avançados; dos motivos regionais e do bestiário; do neorrealismo social ao surrealismo, do expressionismo figurativo à abstração lírica, da arte fantástica à síntese da gravura intimista, dos formatos agressores ao miniatural.» (Matrizes e Gravuras Brasileiras…, 1993)

O catálogo da exposição permitiu conhecer os desenvolvimentos da gravura brasileira ao longo do século XX através do texto de Sérgio Pizoli, assim como a lista completa de obras e artistas representados, nos quais constam nomes como Fayga Ostrower, Iberê Camargo, Lívio Abramo, Milton Dacosta, Regina Silveira, Thereza Miranda ou Renina Katz – que assumiu igualmente o papel de consultora no processo de produção da mostra.

Além de nomes conhecidos do panorama artístico brasileiro, anteriormente apresentados na FCG, como Fayga Ostrower (1977), Renina Katz (1979), Regina Silveira (1990) ou Thereza Miranda (1982), o certame potenciou a apresentação de artistas poucos conhecidos da primeira metade do século XX, à época já falecidos.

Em 2013, seria inaugurada a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, que reúne o espólio artístico do casal Mindlin, constituído ao longo de oitenta anos, e que havia sido doado à Universidade de São Paulo, no qual consta a vasta coleção de gravuras e matrizes apresentadas em Lisboa em 1993.

Patrícia Simões, 2019