Um novo estudo liderado pelo grupo de Miguel Soares do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) foi destacado na revista The Scientist. O imunologista conversou com a revista acerca do trabalho desenvolvido recentemente pela sua equipa, o qual explica por que razão algumas pessoas com casos graves de malária apresentam níveis anormalmente baixos de açúcar no sangue (hipoglicémia).
O estudo, publicado na prestigiosa revista Cell Metabolism, revelou que esta descida priva o parasita da malária de açúcar. Em resposta, este torna-se menos virulento, mantendo-se a salvo, assim como ao seu hospedeiro, o tempo suficiente para dar origem à próxima geração e ser transmitido. “A ideia de que os agentes patogénicos são programados para serem maliciosos está a desvanecer”, o investigador explicou à The Scientist, “estes são apenas microorganismos que tentam adaptar-se e sobreviver”. Os investigadores mostraram ainda que a diminuição dos níveis de açúcar no sangue é coordenada pelo heme, uma molécula que é libertada na circulação à medida que o parasita destrói os glóbulos vermelhos. Ao que parece, esta molécula, associada a vários sintomas severos da malária, tem também um papel protetor contra a doença, uma vez que orquestra a diminuição da produção deste nutriente no fígado.
Este trabalho inovador revelou uma estratégia de defesa contra a malária importante e inesperada, tendo sido recebido de forma positiva por vários especialistas internacionais da área, incluindo o imunopatologista Phillipe Van den Steen (Rega Institute) e o imunologista Dyann Wirth (Harvard T.H. Chan School of Public Health). Apesar de ser necessário confirmar estes resultados em humanos, no futuro, esta descoberta §poderá melhorar o tratamento desta doença potencialmente fatal.