Sépsis: novos dados para compreender e combater a doença

Estudo publicado no jornal Cell Host & Microbe revela mecanismo que confere resistência à sépsis e clarifica aspetos chave da evolução dos hominídeos.
25 jan 2021

Investigadores descobrem que a perda de uma molécula específica pode explicar como os primatas evoluíram para conseguir resistir a infeções bacterianas que dão origem à sépsis. O estudo publicado no prestigiado jornal científico Cell Host & Microbe revela que, em ratos, a ausência desta molécula (o glicano α-Gal) da estrutura de anticorpos aumenta a capacidade dos mesmos anticorpos de eliminar bactérias. Esta vantagem evolutiva emergiu a um custo, o declínio reprodutivo. Estas descobertas vêm clarificar aspetos chave da evolução dos hominídeos e revelam mecanismos que conferem resistência à sépsis, cruciais para compreender e combater esta doença.

A sépsis resulta de uma infeção generalizada e caracteriza-se por desencadear uma resposta imune desregulada com alto risco de morte, contabilizando 20% da mortalidade total a nível global. “Este enorme peso para a humanidade levou-nos a levantar a hipótese de que mutações associadas a uma melhor resistência à sépsis representaria uma tremenda vantagem evolutiva. Isto pode ter sido um fator chave para a seleção de mutações que impedem a produção de α-Gal em Primatas do Velho Mundo e tornam possível que estes consigam produzir anticorpos que eliminam patógenos responsáveis pelo desenvolvimento de sépsis”, explica Miguel Soares, investigador principal no Instituto Gulbenkian de Ciência que liderou o estudo. 

© Joana Carvalho, IGC 2021

 
Há quase um século, descobriu-se que os primatas que deram origem ao homem moderno perderam o glicano α-Gal (tipo de moléculas de hidrocarbonetos presente em todos os organismos vivos) durante a sua evolução. A descoberta revelou que uma série de mutações diferentes tornaram uma enzima (a GGTA1), necessária para produzir α-Gal, não funcional nos Primatas do Velho Mundo (com origem em África e na Ásia, e que incluem os humanos). Estas ideias incentivaram a equipa de investigadores a procurar mais informação. Acabaram por revelar um novo mecanismo através do qual a perda desta enzima confere proteção contra a sépsis. “Descobrimos que ratos sem o gene Ggta1, que simulam a ausência desta enzima que produz α-Gal em humanos, estão melhor protegidos contra infeções bacterianas que levam ao desenvolvimento de sépsis. Isto ocorre através da perda do α-Gal da estrutura de alguns anticorpos (IgG), uma mudança que aumenta a sua função efetora”, afirma Sumnima Singh, autora principal do estudo. “Os resultados que obtivemos sugerem que uma melhor função efetora pode aumentar a resistência a um largo espectro de patógenos”, adiciona Sumnima. 

Este estudo traz novas perspetivas para os princípios fundamentais que governam a resistência à sépsis e para o complexo jogo de forças evolutivas necessário para lutar contra o impacto negativo da sépsis na mortalidade humana. Compreender como evoluíram os primatas ancestrais que deram origem aos humanos modernos aproxima-nos de resolver os mistérios que estão por trás da luta contra uma infeção.

 

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