SARS-CoV-2, o vírus

A capacidade de seguir e acompanhar a evolução do vírus, em tempo real, foi uma das maiores vantagens competitivas para encontrar uma forma de travar a pandemia e a doença. 

A ciência produziu conhecimento a uma velocidade incrível, juntando tecnologia e expertise a nível mundial. No início pouco sabíamos, hoje já muito se sabe sobre o vírus e sobre a doença que causa. 

Sabemos que o vírus vai efetuando mutações à medida que se vai reproduzindo dentro das células da pessoa que infeta. Isto quer dizer que o vírus está constantemente a jogar um jogo de póquer com a pessoa que infeta!

 

Existem duas questões importantes no jogo de póquer da evolução do vírus:

  1. O que é uma boa mão para um vírus mutante vencer outro vírus?
  2. O que é uma boa mão para um vírus vencer a vigilância imunológica do hospedeiro que infecta?

Ao aprender as regras de póquer do SARS-CoV-2, temos um poder extraordinário para encerrar este jogo.


Monitorização

Observar como o vírus muda ao longo do tempo. Isso pode dar-nos informações básicas: com que rapidez o vírus sofre mutações e que tipo de mudanças estão a ocorrer no seu genoma. Esta informação é crítica para antever jogadas.

Evolução

Vigiar para quebrar o jogo de póquer do vírus e seguir o seu gene. Se o vírus tirar uma carta que não muda o spike, não há problema potencial! Mas, se ele tirar uma carta que muda isso é uma boa mão em potencial para o vírus e precisamos seguir muito atempadamente a sua próxima jogada.

Infeção

O vírus SARS-CoV-2 teve de adquirir a “chave correta” para “abrir a porta” que lhe permite entrar em células humanas e aí replicar-se.


 

Perguntas Frequentes

 

O vírus e a doença

O novo coronavírus denominado SARS-CoV-2, responsável pela doença Covid-19, foi identificado pela primeira vez na China, na cidade de Wuhan, em Dezembro de 2019. Este novo agente nunca tinha sido previamente identificado em seres humanos, tendo causado um surto na cidade de Wuhan.

A família de coronavírus conheceu-se pela primeira vez em 1937 e foi descrita especificamente como corona em 1965, quando se conheceram mais as suas características. Ganhou o nome de “corona” porque, ao observar-se ao microscópio, verificou-se que tem a forma de uma coroa. Existem dezenas de coronavírus, a maioria deles infecta apenas animais. Mas os coronavírus foram a causa de duas epidemias recentes que provocavam síndromes respiratórias graves em seres humanos: a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), de 2003, e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), de 2015. 

A atual pandemia é causada por um novo coronavírus, batizado de Sars-Cov-2, que começou a infectar humanos na cidade de Wuhan, na China, em dezembro de 2019. Quando entra no nosso corpo, o novo coronavírus “cola-se” a uma proteína presente na superfície das nossas células, chamada de ECA-2, como uma chave que entra na fechadura. É por aí que o vírus consegue entrar e fazer com que as nossas células trabalhem para ele, replicando o seu material genético e que infeta o nosso corpo.

O vírus é transmitido de duas formas:

1) de pessoa a pessoa, através de gotículas (saliva, espirro, tosse),

2) através de superfícies ou objetos contaminados por gotículas.

O vírus pode ser transmitido quando permanecemos em locais fechados, próximos de outras pessoas, sem usar máscara. Através de afetos (beijos e abraços) mas também na troca de objetos pessoais como utensílios de cozinha ou o telemóvel.

Os sintomas mais reportados pelos casos confirmados são: febre, tosse, dores musculares, cefaléia, fraqueza generalizada ou dificuldade respiratória, perda de olfato e paladar, naúseas, distúrbios intestinais.

Normalmente numa semana.

Febre, oxigenio

Os vírus como qualquer outro micróbio, evoluem alterando os seus genomas. Isto acontece porque quando fazem cópias do seu genoma para produzir descendência ocorrem erros aleatórios. Estes erros, chamados mutações, existem sempre porque a máquina fotocopiadora não é perfeita e não consegue corrigir todos os erros. O coronavírus Sars-CoV-2 tem uma máquina fotocopiadora melhor que a do vírus influenza, é por isso que se diz que sofre menos mutações que o vírus da gripe. Extra: As nossas células têm uma máquina fotocopiadora muito melhor, então para cada letra do nosso genoma uma célula faz um erro em biliões de letras cada vez que se divide. Comparativamente um coronavírus faz mais 1000 erros por letra do seu genoma.

 

Medidas de proteção e diagnóstico

As medidas de proteção não eliminam o risco de contrair a doença, mas quanto mais fizermos, menor é o risco:

  1. Distanciamento físico entre as pessoas
  2. Uso de máscara
  3. Higiene respiratória (não tossir/falar/espirrar para a cara de uma pessoa)
  4. Lavar frequentemente as mãos
  5. Higiene de superfícies e objetos.
  6. Não trocar objetos pessoais: telefone, canetas, computadores, utensílios de cozinha, etc.

Uma única medida pode não ser suficiente. Quantas mais se usarem mais protegidos estaremos.

É possível. O vírus espalha-se principalmente pelo ar e os espaços fechados, como o elevador, são locais de risco. Deve-se evitar partilhar o elevador com outras pessoas e se for possível usar as escadas. Se for preciso usar o elevador usar medidas de proteção adequadas, como por exemplo usar máscara e lavar as mãos a seguir à sua utilização.

Embora o vírus possa ser detetável por alguns dias em roupas não é claro que este seja um modo de transmissão. A decisão de mudar de roupa depende do risco associado ao que se fez ao usar as roupas e quão confortável cada pessoa se sente com diferentes riscos. Se se esteve junto a alguém com COVID-19 deve-se mudar de roupa, por outro lado se se esteve a andar num jardim sem interagir com ninguém provavelmente não é necessário. 

Em condições laboratoriais os vírus podem manter-se em superfícies durante vários dias mas não há evidência deste vírus ser transmitido através do alimento ou embalagens. Deve-se ter os cuidados de higiene comuns relacionados com a alimentação. Lavar os alimentos, e lavar as mãos antes e depois da preparação dos alimentos.

Se a outra pessoa com quem se troca notas e moedas tiver infetada pode sempre haver o risco do dinheiro estar contaminado. Deve-se lavar as mãos depois de manusear dinheiro.

Os transportes públicos são espaços relativamente fechados e com muita gente. São por isso um local de risco para infeção. Deve-se usar máscara em transportes públicos, lavar as mãos a seguir à sua utilização e seguir os procedimentos gerais de prevenção de infeção.

As crianças podem ser infetadas pelo vírus e transmiti-lo, embora sejam menos suscetíveis a ficar doentes. A importância das crianças na propagação da doença é menos clara e muito provavelmente depende das variantes do vírus e das condições na escola. Em princípio as escolas têm protocolos e procedimentos para minimizar a transmissão do vírus.

Os adolescentes também podem transmitir a doença e devem seguir as regras de higiene e comportamento iguais aos adultos.

Em primeiro lugar deve-se usar sempre máscaras certificadas, seja através de marcação CE válida ou certificados para as máscaras sociais emitidos por diversas entidades (CITEVE, ISQ ect). Atualmente, devido à presença na população da estirpe britânica do vírus, na escolha de máscaras certificadas, deve-se dar primazia à escolha de máscaras sociais de nível 2 que possuem uma eficiência de filtração de pelo menos 90% das partículas em detrimento das máscaras sociais de nível 3, apenas com 70% de eficiência de filtração de partículas. As máscaras classificadas como FFP2 ou KN95 embora possuam uma eficiência de filtração superior, de pelo menos 95% das partículas, estão aconselhadas para profissionais de saúde ou outros profissionais que contactam diretamente com o vírus que, devido a estas funções, necessitam da proteção adicional conferida por estas máscaras.

Teste PCR ou teste de antigénio numa colheita de zaragatoa. Os mesmos testes em amostra de saliva já estão aprovados em vários países e usados no contexto de monitorização.

O vírus tem um período de incubação de cerca de 2-4 dias no hospedeiro até de conseguir detetar nos testes mesmo os mais sensíveis. Significa, portanto, que podemos ser testados hoje, o teste ainda ser negativo, mas já estarmos a incubar o vírus. Por este motivo é importante manter um tempo de isolamento após se contactar uma pessoa positiva. O teste responde à pergunta se temos vírus detetáveis no dia em que fomos testados. Pode acontecer que horas ou um ou dois dias depois de fazermos o teste sejamos infetados. Por isso é importante mantermos as normas higiénicas que evitem a transmissão.

Esta pergunta é muito complexa porque depende do nível de transmissão do vírus na comunidade, do tipo e local de atividade do indivíduo que estamos a considerar, do tipo de comportamentos que teve, se de alto ou baixo risco para a transmissão. Não tendo comportamentos de risco, e se o nível de transmissão do vírus na comunidade for baixo, os testes deverão ser feitos com sintomas associados ou após contacto com caso infectado. No caso de se trabalhar num hospital, numa escola, fábrica e da transmissão ser elevada, então há a necessidade de se testar quando há sintomas ou contactos de risco, mas também fazerem-se testes para rastreio uma ou duas vezes por semana de acordo com o plano estabelecido.

 A testagem tem de estar adequada às diferentes fases da pandemia: de resposta (mitigação) e de recuperação; estar integrada nas estratégias de mitigação que globalmente são definidas para reduzir a transmissão de SARS-CoV-2, ser adequada e adaptar-se ao nível de transmissão na comunidade. O CDC recomenda o uso de duas medidas para avaliar carga da comunidade para determinar o nível de risco de transmissão: número total de novos casos por 100.000 pessoas nos últimos 7 dias; e a percentagem de resultados do teste de amplificação de ácido nucleico (NAATs) que são positivos durante os últimos 7 dias. As duas medidas de carga da comunidade devem ser usadas para avaliar a incidência e propagação do SARS-CoV-2 na comunidade circundante (por exemplo, condado). O nível de transmissão para qualquer local específico mudará ao longo do tempo e deve ser reavaliado semanalmente para consciência situacional e para informar continuamente o planejamento.

Através de testes serológicos.

6 meses.

 

Vacinas

A hipótese de vacinas de mRNA foi formulada em 1989, quando se demonstrou que o mRNA pode ser entregue às células quando envolvido num lípido e originar uma proteína. Ouvimos falar de vacinas de mRNA agora, mas isso não quer dizer que estas não resultem de anos de intenso trabalho científico e validação em áreas distintas: biológica celular, imunologia, química e farmacêutica. Tudo começa com a descoberta da molécula de RNA mensageiro (mRNA) em 1961. Foi preciso perceber como é que o nosso próprio mRNA funciona nas nossas células, como podia ser produzido no laboratório e entregue às células de um organismo. Foi preciso também perceber que o nosso sistema imune respondia a um mRNA administrado desta forma e descobrir como é que reconhece e ataca um patogéneo em geral.

A Merix foi fundada em 1997 sendo a primeira empresa focada no desenvolvimento de vacinas de mRNA, e desde então um grande número de cientistas tem estudado estas vacinas numa série de doenças: infeções virais (citomegalovirus, HIV-1, vírus da raiva, vírus Zika e vírus da gripe), infeções bacterianas (Clamídia, Streptococus do grupo A e B), parasitas (Toxoplasma gondii) e cancro (melanoma e carcinoma do colon). Em 2012, descreveu-se a primeira vacina de RNA encapsulada em LNP, e várias Agência começaram a financiar o desenvolvimento de vacinas e terapêuticas com RNA. Em 2013, por exemplo, a empresa CureVac na Alemanha, começou testes em humanos de uma vacina contra a raiva. A empresa Moderna, também em 2015 iniciou ensaios clínicos de uma vacina baseada em RNA para uma nova estirpe de gripe aviária, que provocou respostas imunológicas eficazes. Esta mesma empresa iniciou testes em humanos de vacinas de RNA para citomegalovírus (uma causa comum de defeitos de nascimento), dois vírus transmitidos por mosquitos (chikungunya e Zika), e para terapias em cancro (tumores sólidos, linfoma e melanomas). Todos os estudos estão em fase 1 ou 2, e apenas a vacina contra SARS-CoV2 foi levada até à aprovação. Até agora, há mais de 20 terapias baseadas em mRNA em ensaios clínicos, num mercado cujo valor tem vindo a aumentar exponencialmente. Os resultados têm apontado para uma eficácia e segurança destas estratégias apesar de os estudos ainda não estarem acabados.

O acumular de conhecimento adquirido durante estes anos de estudo dos diferentes coronavírus levou a que agora se conseguisse um rápido desenvolvimento de uma vacina contra SARS-CoV2. As razões mais relevantes são:

1) Não tivemos de descobrir a estrutura do vírus nem identificar qual a proteína viral de SARS-CoV2 que permite a entrada do vírus nas células. Sabia-se também que todos os vírus desta família têm à sua superfície uma proteína com o nome Spike que em todos os casos permite a entrada do vírus nas células.

2) Não teve de se identificar o receptor das células humanas que permite a entrada de SARS-CoV2 porque a semelhança entre os genomas de SARS-CoV e de SARS-CoV2 deu-nos um candidato que apenas teve de ser validado. Descobriu.se que a proteína Spike se liga a uma proteína no nosso corpo com o nome ACE2 (Angiotensin-converting enzyme 2) que funciona como receptor para a entrada de SARS-CoV, SARS-CoV2 e ainda NL63-CoV.

3) Não se teve de descobrir qual é a proteína viral que o nosso sistema imune vê. Por causa de anos de estudo noutros coronavírus, já sabiamos que a proteína Spike é a mais imunogénica, levando a uma resposta potente desencadeada pelo nosso sistema imune. Os anticorpos são parte dessa resposta e são proteínas que o nosso corpo produz e que reconhecem o patógeno (ou parte dele, o antígeno). Os anticorpos permitem a entrada do vírus nas células (anticorpos neutralizantes) ou facilitam a actuação de outros componentes do sistema imune. Por isso, já se sabia que uma vacina eficaz teria de dar indicações ao nosso corpo para produzir anticorpos contra a Spike e, é por isso, que quase TODAS as estratégias das vacinas contra SARS-CoV2 têm na sua composição a proteína ou o material genético que codifica a proteína Spike.

4) Já havia muitas vacinas desenvolvidas e testadas em animais para outros coronavírus. Por causa da gravidade de SARS-CoV e de MERS-CoV, muitos laboratórios tinham começado a desenvolver terapias, identificar anticorpos e testar estratégias de vacinação contra estes vírus, para serem usados em caso de necessidade.

5) Todos estes estudos, que demoraram décadas, serviram para reduzir o tempo para a produção das diferentes vacinas contra SARS-CoV2. Adicionalmente, durante os ensaios clínicos houveram dois fatores críticos para encurtar o tempo de desenvolvimento. A fase 1, 2 e 3 dos ensaios clínicos varia no número de pessoas a serem testadas, centenas, poucos milhares e um número alargado. Normalmente apenas se passa à segunda fase ou à terceira, após a primeira e segunda, respetivamente, tenham sido completadas e analisadas, e após investimento de financiadores. Ora aqui o financiamento estava garantido, e por isso podia-se testar mais pessoas ao mesmo tempo. O outro fator é que para demora até se conseguir testar a eficácia, porque requer que o curso normal da infeção. Aqui, dado que a infeção estava descontrolada também rapidamente se conseguiu determinar a eficácia na proteção num contexto de infeção natural.

6) As plataformas para produzir vacinas têm sofrido avanços extraordinários (que serão explicados abaixo) e as diferentes vacinas largamente testadas para outras doenças, havendo dados robustos sobre a sua eficácia e segurança.

As vacinas têm de ser produzidas com o maior cuidado para serem eficazes e seguras. As empresas que produzem vacinas conseguem produzir centenas de milhões de doses de vacinas contra a gripe todos os anos, e as empresas conseguem aumentar a produção em momentos de necessidade. Mas se 7,8 mil milhões de pessoas (a população mundial atual) precisarem de um novo tipo de vacina para se protegerem de SARS-CoV2 e se as empresas continuarem a produzir a quantidade normal de vacinas contra a gripe, sarampo, HPV, rubéola e outras doenças, pode haver uma escassez de produção. Para vacinas que usam subunidades da SARS-CoV2, e para vacinas que precisam de um adjuvante - moléculas adicionadas para aumentar a resposta imunológica, pode haver escassez de reagentes, como lipídios específicos. Finalmente há a questão do investimento. A produção de vacinas é cara e uma empresa apenas pode produzir as vacinas necessárias se souber que tipo de retorno terá.

Tomando a vacina, os estudos indicam que se fica protegido de desenvolver doença severa, e são menos claros relativamente à proteção da infeção. Não sabemos ainda quanto tempo é que a vacina protege as pessoas vacinadas.

Ainda não se sabe a duração da proteção para nenhuma faixa etária porque a vacina está a ser administrada há pouco tempo e não há dados.

Estudos apontam que há algumas variantes de SARS-CoV2 para as quais a vacina poderá ter uma proteção menor, se bem que ainda seja eficaz a proteger de doença severa.  Poderá acontecer contudo que quando somos infetados por estas variantes, que a vacina não proteja da infeção, mas só do desenvolvimento de doença severa.

 


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Atualização em 11 abril 2023

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