Com um trabalho extenso e afirmativo em pintura, Bruno Pacheco realiza pontualmente algumas obras em suporte vídeo. São normalmente propostas muito minimais, nos meios e na opção estética, ao contrário do que acontece na pintura, profusa, estridente e expressiva nos motivos, cores e figuras. Comum a ambos os meios, estão presentes a alusão metafórica, a abordagem irónica, a interrogação da vacuidade e do absurdo.

 

Nesta obra, o nosso olhar é colocado no sopé de uma pequena elevação montanhosa, árida e vermelha, talhada contra o céu azul e nuvens esparsas. Nessa linha de horizonte, vemos de repente surgir alguém, um ser minúsculo que começa a descer em direção ao vale, uma sombra que por momentos breves desaparece mas vai ressurgindo ao longo dessa linha de recorte. Percebemos desde muito cedo que traz as mãos atrás da cabeça em sinal de rendição.

 

O título sugere-nos uma rendição a Hamish… Fulton. O artista inglês tornou emblemática uma prática da arte de caminhadas (walking artist), normalmente longas, durante as quais fotografa e anota reflexões e experiências. A caminhada neste vídeo é, porém, aparentemente curta, dura uns breves minutos, apesar da indicação de que continua para além do nosso campo de visibilidade, uma vez que o protagonista (representado pelo próprio artista) passa diante da câmara sem se deter e prossegue, não sabemos quanto mais tempo ou espaço. É uma caminhada silenciosa (no sentido também de que não há notícia de palavras ou reflexões) e em que a captação de imagem, em vez de feita pelo caminhante, é realizada por uma testemunha exterior que o acolhe como a um refém: refém humano, refém da imagem, da arte e da sua própria fição.

 

A rendição é literal, num primeiro momento, encenada e representada; é metafórica, num segundo momento, significando a referência a outro artista; é irónica num terceiro momento que o desmistifica, banaliza ou simplesmente incorpora com desconcertante simplicidade.

 

Leonor Nazaré

 

Maio de 2013