• 1944
  • Cartão
  • Guacheenvernizado
  • Inv. DP1602

Júlio Pomar

s/título

Datada do ano em que Júlio Pomar se muda da Escola de Belas Artes de Lisboa para a do Porto, esta é uma obra do período inicial da sua produção, correspondente ainda aos seus anos de formação. As suas primeiras obras datam de 1942, ano em que ingressa da Escola de Belas Artes de Lisboa. Tem dezoito anos quando a realiza, mas aos dezasseis havia-se já estreado na escrita para a imprensa, publicando no jornal da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras Horizonte, dirigido então por Joel Serrão, o texto-manifesto “Da necessidade duma Exposição de Arte Moderna”.

 

Compreender o significado de uma obra como esta será, antes de mais, compreender o contexto cultural dos anos 40 portugueses que a enquadrou. Não obstante as primeiras manifestações surrealistas terem já despontado em 1940 — com uma exposição de António Pedro e de António Dacosta — e de o abstraccionismo fazer em breve a sua entrada — pela mão de artistas como Fernando Lanhas, Nadir Afonso e Arlindo Rocha —, o panorama das artes plásticas em Portugal era então dominado pelas tendências naturalistas mais conservadoras que se expunham nos salões da Sociedade Nacional de Belas Artes e por um modernismo domesticado promovido pela “Política do Espírito” de António Ferro e exposto nos salões do SPN.* Neste contexto, a fase inicial da produção teórica e plástica de Pomar constituem um posicionamento a um tempo estético e político.

 

Com efeito, o empenho neo-realista na defesa de uma causa social e política, bem como a tentativa de expressão da mesma através de uma “arte moderna”, plasma-se na presente obra. Denotando claras influências de uma linguagem pós-cubista — que leituras historicistas das histórias da arte periféricas não hesitarão em classificar de “derivativas” —, observamos nela um jogo de primeiro e segundo plano, onde, entre a afirmação ora de um, ora de outro, emerge a figuração de um rosto (cujas feições remetem para a atracção pela escultura africana de autores como Picasso) e de umas mãos proeminentes atrás de umas grades. A figuração de arame farpado na base da composição reitera o sentido de aprisionamento.

 

Denúncia metafórica de uma situação de opressão — que tanto poderá remeter-se à ditadura salazarista, à situação colonial do seu império, como ainda, lato sensu, ao sistema capitalista —, o seu conteúdo é indestrinçável da sua forma. Se dúvidas críticas e historiográficas persistem acerca da legitimidade do neo-realismo português nas artes plásticas — quer seja para afirmar um distanciamento face ao realismo socialista soviético, quer seja para promover historiograficamente movimentos contemporâneos, como o surrealismo e o abstraccionismo —, normalmente acompanhadas por uma condenação da sua “ortodoxia” e “monolitismo” formal, bastaria uma obra como esta para o desmentir e demonstrar a sua pluralidade e ecletismo.  

 
 

* José-Augusto França, “Os Anos 40 na Arte Portuguesa” in Os Anos 40 na Arte Portuguesa, vol.1, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1982, p. 30

 

 

 

Luísa Cardoso

Fevereiro 2015

TipoValorUnidadesParte
Altura38,5cm
Comprimento48,5cm
TipoA definir
DataA definir
Atualização em 23 janeiro 2015

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