Os desenhos de Joaquim Bravo, do final dos anos de 1960, correspondem a um momento em que a sua obra, apesar de quase nunca exposta, atravessa a sua fase mais fértil. Fixando-se em Lagos, depois de anos de errância, e deixando de parte a pintura expressionista, encontra no desenho, e na reinvenção deste pelas novas poéticas abstratas da vanguarda internacional, um território de maior liberdade pessoal, embarcando num processo criativo muito intenso que, em pouco tempo, deu origem a séries sucessivas, por vezes sobrepostas, com experiências visuais contraditórias, embora, em regra, de média dimensão, a caneta de feltro e grafite.

 

À hipérbole e complexidade das anteriores composições, estes desenhos contrapõem a simplicidade formal e as nuances subtis, num trabalho sistemático de busca de soluções plásticas através duma economia de meios, privilegiando os seus efeitos ópticos e perceptuais. O vocabulário reduzido de formas geométricas que emprega, de intencionais ecos modernistas e minimalistas, dá assim origem, nos desenhos da coleção do CAM, a um conjunto de linhas simples, de cor sóbria, cujo arranjo em estruturas e módulos explora dinâmicas e ambiguidades espaciais. No entanto, apesar de estes desenhos produzidos entre os anos de 1960 e 70 revelarem um corte radical de todos os referentes à realidade externa, e a rejeição da leitura da obra ao nível do significado, Bravo raramente cede ao purismo matemático, incluindo figuras geométricas deturpadas, ligeiras variações sobre as linhas do esquadro, áreas negras sobre a estrutura de fundo, marcas do lápis impreciso sob o feltro e contactos entre cores diferentes, de maneira a tornar irregulares e imprevistas as relações internas entre formas, com parte de uma reação idiossincrática contra o tipo de imagem impessoal defendida pelas ortodoxias doutrinárias da abstração.

           

Afonso Ramos

Junho 2013