Esta cabeça de mulher remete-nos, imediatamente, para um outro pastel produzido para a revista ABC, por volta de 1922. O paralelismo entre estes dois pastéis estabelece-se não só através do uso da linha enquanto elemento que esboça as formas de um rosto estilizado e que a maquilhagem ajuda a acentuar, mas também pelo uso da cor algures entre as novidades expressionistas e fauvistas do início do século. Todavia, esta composição apresenta-se mais carregada, num tratamento que parece fugir à subtileza que Soares normalmente empresta aos seus quadros.

 

Neste trabalho, a ocupação da superfície pictórica pelo rosto é acentuada pelo branco que a pele exibe. A atenção do espectador é, assim, desviada do tratamento do cabelo ou do padrão exibido pelas vestes. O colorido da maquilhagem que anima este retrato aproxima-o de uma concepção de máscara.

 

O tratamento do rosto enquanto máscara é significante se atendermos à sua conotação como esconderijo da pessoa ou de identificação daquilo que pretende representar, constituindo uma ligação à modernidade pela ideia de anonimato de uma vida que se quis urbana e cosmopolita, e ainda pela capacidade transformadora da reinvenção da mulher por si mesma, celebrada na Idade do Jazz-Band de António Ferro (1923).

ASR

Maio de 2010