Foi no contexto das designadas «ruturas» dos anos 60 que Ana Vieira produziu uma série de trabalhos que registam um deslizamento nas categorias artísticas tradicionais, e que foram propostos como uma fusão entre a pintura e a escultura. Com efeito, é um cruzamento entre o bidimensional e o tridimensional que esta peça estabelece, dado que partiu de uma intervenção sobre placas de madeira – elementos bidimensionais que foram recortados e pintados de branco –, e foi posteriormente montada enquanto composição de carácter escultórico.

 

Acusando a problematização do espaço que podemos reconhecer como um dos elementos transversais na obra desta artista, Sem Título consiste numa construção que recria a figura de uma mesa, propondo uma dualidade entre cheio e vazio, entre positivo e negativo, ou entre presença e ausência. E ao pressupor um percurso em seu redor, que permitirá que várias das suas facetas se revelem à medida que o espectador se desloca, constitui-se também como uma obra que se articula com a sua envolvente espacial.

 

Enquanto evocação e não tanto como apresentação ou representação de um objecto, trata-se de uma peça que, ao mesmo tempo que ocupa um espaço, utiliza esse espaço como elemento essencial para a sua constituição, e, através da marcação de uma ausência, sugere ainda um outro espaço – funcionando assim como um jogo de revelação e ocultação.

 

 

 

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Junho de 2012