Ana Hatherly assume-se claramente como uma pessoa ativa na defesa de valores pacifistas e humanistas, reivindicando os direitos e deveres cívicos individuais na construção de uma comunidade baseada na paz e na liberdade.

 

Num país «orgulhosamente só», a artista foi a ponte entre os escritores portugueses e a associação internacional P.E.N. Club, cuja essência é marcada pelo poder de denúncia e influência através da palavra, na defesa da liberdade de expressão e na promoção do respeito e diálogo intercultural. Aliás, logo após a revolução de Abril de 1974, Ana Hatherly foi co-fundadora do P.E.N. Club Português, do qual, mais tarde, foi Presidente. O empenhamento da artista é profundamente político, não da política ideológico-partidária mas de um pensamento sobre a ação na res publica. A artista intervém no espaço da expressão, ou como sublinha: «cada um faz a subversão como pode dentro da sua área de actividade: eu fiz a minha dentro da área da escrita, nas suas múltiplas facetas.»*

 

Esta obra surge, então, não como tema, mas como grito de alerta para o curso dos acontecimentos. É uma necessidade interior, uma exigência até, de reconciliação.

 

No ano de 1987 Ana Hatherly realizou uma série de trabalhos em volta da palavra «paz», servindo-se de materiais tão diversos como o pastel, a letraset ou ainda a tinta-da-china. A palavra tanto é riscada violentamente ecoando a força das palavras de ordem como é repetida incessantemente até se tornar textura.

 

PAZ ou PAX – em latim – é mais do que um conceito basilar da cultura humana, é um estado de espírito que valoriza a liberdade e igualdade. Ana Hatherly, inscrevendo-se na tradição histórica do apelo dos artistas para o respeito ao bem comum, torna presente e urgente a reflexão do tema.

 

 

* Entrevista de Pedro Sena-Lino à artista em Público (Suplemento Mil Folhas), 6 de Abril de 2002, in HATHERLY, Ana. Interfaces do olhar. Lisboa: Roma Editora, 2004, p.140.

JB

 

Setembro de 2010