• Papel
  • Linóleo
  • Inv. GP1389

Júlio Pomar

sem título

Esta gravura data precisamente do ano em que Júlio Pomar faz a sua estreia nesta técnica, no Atelier Amândio Silva, na cidade do Porto.

 

A técnica da gravura era, aliás, uma das que melhor se coadunava com a ambição do neo-realismo de fazer uma arte “do povo, pelo povo e para o povo”, já que, recorrendo a um processo de reprodução mecânica, permitia uma difusão mais ampla das suas propostas. Face à tradicional pintura de cavalete, a gravura, bem como a pintura mural (que, por constrangimentos políticos óbvios, não tinha encomenda, logo não teve expressão no neo-realismo português, acabando por se substituída pela tapeçaria) permitiam um consumo mais alargado e tendencialmente não restrito aos habituais centros de exibição. Júlio Pomar expressa essa preocupação com a recepção da sua produção logo em Janeiro de 1947, num artigo que publica na Seara Nova, intitulado “O pintor e o presente”. Nele sustenta que era necessário “considerar as “tarefas do presente” e “os caminhos da acção imediata”, entre estes o “consumo da arte pelo povo” — a procura de novos lugares de exposição (“os clubes desportivos, as sociedades recreativas, todas as organizações populares congéneres, podem tornar-se esplêndidos meios de aproximação”) e também a chamada “às linhas de fogo (dos) processos de reprodução”.”*

 

Se comparada com a gravura do mesmo ano também pertencente à colecção do Centro de Arte Moderna e intitulada A refeição do menino ou almoço, apercebemo-nos que esta fase da produção neo-realista de Pomar se caracteriza sobretudo pela experimentação de diversas linguagens plásticas. Face à serenidade descritiva de A refeição do menino ou almoço, esta gravura (também catalogada como Mulheres fugindo**) recorre a um expressionismo que intensifica a carga dramática da acção representada. Um grupo das mulheres com uma criança ao colo em primeiro plano foge do que parece uma catástrofe natural a desenrolar-se no plano mais recuado. As diagonais da composição — corpo das mulheres, relação da mancha que constituem com a mancha da catástrofe em segundo plano —, bem como o carácter convulsivo do traço, conferem dinamismo à obra.

 

A indissolubilidade entre forma e conteúdo que Pomar defendia nos seus textos teóricos parece assim ensaiar-se, primordialmente, no ecletismo formal com que tenta expressar as suas preocupações políticas e sociais.

 

* Alexandre Pomar, “Júlio Pomar” in Júlio Pomar. Catálogo ‘Raisonné’ I. Pinturas, Ferros e ‘Assemblages’. 1942-1968, Paris, La Différence, 2001-2004, p. 17.

 

** Júlio Pomar e a experiência neo-realista, Vila Franca de Xira, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira e Museu do Neo-Realismo, 2008, pp. 84 e xxx

 

 

 

Luísa Cardoso

Fevereiro 2015

TipoValorUnidadesParte
Altura38,2cmpapel
Largura45,1cmpapel
TipoA definir
DataA definir
1/150 Gravar e Multiplicar
Almada, Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea, 2009
ISBN:9789728794583
Catálogo de exposição
Atualização em 23 janeiro 2015

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