Com Retrato da Irmã do Artista, de 1937, podemos traçar um percurso pelos retratos femininos de maiores dimensões e em tela de António Soares, caminho marcado na colecção do CAM com Natacha (1928) e Retrato de Maria de Mello Breyner (1932).
Realizada no ano em que Soares é premiado com o Grand-Prix da Exposição Internacional de Paris de 1937, esta obra constitui-se como via de entrada para uma abordagem à sua pintura e ao contexto histórico em que se insere.
Quando colocada lado a lado com as duas telas já referidas, deixa desde logo sobressair a diferente pose que é ensaiada, podendo a partir daqui afirmar-se um cada vez maior domínio técnico de um pintor que, convirá não esquecer, foi um autodidacta. A isto acresce o facto de a figura não se encontrar já num canto, mas sim sentada numa cadeira, objecto determinante para a definição espacial. O fundo é, agora, composto por uma série de planos habilmente separados por um tratamento da luz que ajuda, inclusivamente, a destacar a figura do fundo que a enquadra.
Atentando ao prémio que António Soares recebe neste ano de 1937, é possível afirmar que depois da consagração com Natacha, logo em 1929, e mais tarde com o Prémio Columbano, o reconhecimento do pintor atinge um ponto alto. Este prémio internacional, observado à luz dos ditames de António Ferro e num contexto artístico de regresso à ordem entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, acaba por consagrar uma carreira laborada entre uma gramática oitocentista e uma atenção ao modernismo, no que à pintura em tela diz respeito.
ASR
Maio de 2010