• 1951
  • Papel
  • Tinta-da-china
  • Inv. DP439

Fernando de Azevedo

Ocultação

As ocultações, processo de trabalho cuja origem se encontra, provavelmente, nas overpaintings de Max Ernst, marcam de forma singular a história do surrealismo. Para Fernando de Azevedo, como para outros artistas em Portugal nos anos 40, tiveram importância na passagem à não-figuração e na assunção do acaso e do inconsciente. O processo permitia a descoberta e a emergência do desconhecido em cada um, “porque por detrás do exercício, está o ser humano”*.

A ocultação surge no desenho de Azevedo em 1948, ainda antes de ser utilizada sobre fotografia. As duas ocultações que mostrou na exposição do Grupo Surrealista, em 1949, estão hoje perdidas.

Em 1952, na exposição realizada na Casa Jalco, Azevedo apresentou dezanove ocultações (para além de pintura, desenho, colagem e um manequim). Personagens Preciosas (1950/51), ali exposto, é um trabalho considerado fundamental no seu percurso, justamente por remeter para o processo da “ocultação”, apesar de se tratar de uma pintura a óleo.

Tal como a colagem e muita da pintura que realizou, as ocultações são a negação do princípio figura-fundo. A tinta-da-china é espalhada sobre imagens impressas arrancadas a páginas de revista ou, menos frequentemente, sobre desenhos do próprio artista, definindo formas a partir das zonas não cobertas, em composições expostas ao risco da irreversibilidade.

As ocultações de Azevedo são dinâmicas e delicadas, fluidas e complexas… Nelas coexistem o grotesco e o poético, o motivo vegetal ou vagamente animal e a força geométrica, plasticidade orgânica e mecânica. Aquelas que realiza a partir de folhas impressas são mais favoráveis a essa condição cinética, a uma sensação de iminência constante, de desvendamento e recusa, de epifania. A luz que nelas se projecta pela fabricação de um claro-escuro transitivo ou contrastante, e pelo tratamento do seu volume escultórico, atribuem às formas uma plasticidade perturbadora, maleável, ameaçada.

O lado fantasmático das figuras – pontiagudas, bojudas, filamentosas, esponjosas, estriadas, lapidadas, matizadas – permanece nos desenhos que Azevedo também oculta, mas nesse caso uma relativa rigidez trazida pelos riscos subjacentes confere-lhes mais peso, maior fixação e, por vezes, uma certa aspereza. Nos desenhos presentes na coleção do CAM, alguma figuração sobrevive ainda à abstração e o espaço é articulado de forma mais arquitetónica. O que se oculta e se adivinha nestas imagens poderia ser o exato simétrico do que se mostra e descobre, não fora a respetiva diferença de potencial – a imagem recortada é necessariamente uma eleição da forma na obra ao negro iniciada e sucede-lhe como conquista, apesar da aparente fragilidade da sua fixação.

 

* Fernando de Azevedo citado por Isabel Coutinho Cabral, em “Fernando de Azevedo: da ocultação à pintura, da pintura à colagem”, em Colóquio-Artes, n.º 66, setembro de 1985.

 

 

Leonor Nazaré

Março de 2013

TipoValorUnidadesParte
Largura21,5cm
Altura32,2cm
Tipo assinatura
TextoF. Azevedo
Posiçãoem baixo ao centro
Tipo data
Texto3 - 51
Posiçãoem baixo ao centro
TipoA definir
Dataa definir
Atualização em 12 outubro 2021

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