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Júlio Pomar

Mulher do Mar

Em 1956, Júlio Pomar funda, juntamente com outros artistas, como Rogério Ribeiro e José Júlio, a Gravura — Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses. Longe iam já as esperanças de democratização do regime acalentadas pelo neo-realismo no imediato pós-guerra, mas persistia a intenção de aproximação da arte do povo. Dadas as dificuldades de executar pintura mural — devido à ausência de encomenda ou à censura posterior a que ficavam sujeitas, como o demonstrara o episódio de destruição dos frescos do cinema Batalha, no Porto, executados por Pomar em 1946 —, a gravura, devido à sua possibilidade de reprodução técnica, apresentava-se como meio privilegiado nessa tentativa de democratização da prática artística.

 

O ano de 1956 é também marcado pela última Exposição Geral de Artes Plásticas, na Sociedade Nacional de Belas Artes, evento que se realizava havia dez anos e que, não obstante o ecletismo das propostas que acolhia, fora não só um evento de oposição cultural ao Estado Novo, como a plataforma por excelência de afirmação do neo-realismo.* Contudo, se esta X EGAP acaba por ser uma exposição retrospectiva do neo-realismo, onde Pomar expõe cerâmica, gravura e pintura, novos horizontes se abrem então com a acção da Fundação Calouste Gulbenkian.

 

Com efeito, a gravura Mulher do Mar acabaria por ser premiada na I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, realizada em Dezembro de 1957 na Sociedade Nacional de Belas-Artes. Alexandre Pomar considera que a mesma “filiava-se por inteiro na corrente do seu realismo mais liricamente populista”**, por contraponto a obras de ruptura por esta altura também realizava, como a tela Maria da Fonte. Porém, a “estranha melancolia” que Alexandre Pomar reconhece a obras como O Circo ou O Baile, de 1955 e 1956, respectivamente, também pode ser reconhecida nesta gravura. Uma mulher em primeiro plano, descalça, envolta num xaile que corta diagonalmente a verticalidade da sua figura, aparentando movimentar-se em direcção diversa à do seu olhar nostálgico, é enquadrada, em segundo plano, por um barco de proa pontiaguda. A profundidade da imagem é sugerida por um jogo de subtis e “transparentes” camadas ou velaturas, como se a imagem ameaçasse desvanecer-se. Fim de uma época do movimento neo-realista e também sinal de metamorfose na produção de Pomar, que, não deixando de se identificar “com o projecto de intervenção social”*** que fora o neo-realismo, enveredava pela exploração de novos caminhos plásticos.

 

* “Essa atitude de militância cultural, à qual não é alheia a influência de Bento Jesus Caraça, está por trás da organização das Exposições Gerais de Artes Plásticas (EGAPs) que tinham como modelo ideal a revolução cultural mexicana e cuja condição de admissão era nunca ter exposto ou nunca mais expor a partir dessa data no Secretariado Nacional de Informação. Desta forma foi possível congregar uma série de propostas artísticas díspares em torno de um objectivo comum, que era a oposição cultural ao regime.” Mariana Pinto dos Santos, Vanguardas & Outras Loas. Percurso Teórico de Ernesto de Sousa. Lisboa: Assírio & Alvim, 2007, pp. 44-45.

“No prefácio, também anónimo, do catálogo da 10ª e última exposição [Geral de Artes Plásticas], em 1956, sublinha-se justamente o papel nacional destes salões sem júri e sem prémios, o impulso dado por eles à gravura (e à tapeçaria) — e, sobretudo, desde o início, a ligação ao movimento neo-realista. Com efeito, se a percentagem dos artistas neo-realistas presentes nas exposições sucessivas não era elevada, não é menos verdade que, pelo significado das suas obras e pelo interesse por elas despertado, como pela imediata conotação política junto de um público simpatizante (reflectido pelas apreensões da P.I.D.E. em 1947) se pode afirmar, no referido texto, que “a história do neo-realismo nas artes plásticas em Portugal é, numa boa parte, a história das Exposições Gerais de Artes Plásticas.”” José-Augusto França, “Exposições Gerais de Artes Plásticas” in Os Anos 40 na Arte Portuguesa, Vol. 1, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1982, p. 85.

** Alexandre Pomar, “Júlio Pomar” in Júlio Pomar. Catálogo ‘Raisonné’ I. Pinturas, Ferros e ‘Assemblages’. 1942-1968, Paris, La Différence, 2001-2004, p. 20.

*** Idem, p. 20

 

 

 

Luísa Cardoso

Fevereiro 2015

TipoValorUnidadesParte
Altura48,4cmpapel
Largura32,5cmpapel
TipoA definir
DataA definir
Atualização em 23 janeiro 2015

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