Talvez a mais importante ideia para a compreensão do trabalho de Bridget Riley seja «a consciência de que o equilíbrio, dentro de uma estrutura rígida, pode ser perturbado e restaurado». Na ilustração desta ideia, associada à não rigidez das formas geométricas (ideia a contra corrente do senso comum), Riley gosta de evocar a experiência de uma forte chuvada no Verão de 1960, em Veneza, em que a chuva, ao cair no pavimento de ladrilhos pretos e brancos, parecia dissolver o padrão das pedras, que se tornava de novo nítido, ao secar.
Em Metamorphosis (Metamorfose), Riley opera ao nível da ambiguidade óptica gerada no espectador pela sugestão de deslocamento progressivo e dos efeitos lumínicos dos círculos cinzentos – trabalhados em progressão contínua tonal do cinzento escuro ao cinzento mais pálido –, impecavelmente traçados sobre o campo contínuo do fundo, de um branco imaculado. Não há na pintura de Riley qualquer elemento matemático, apesar de estarmos perante uma abstracção geométrica. Do mesmo modo que não encontramos sinal directo da mão da artista que, desde 1961, preferiu entregar a execução das suas pinturas a assistentes, reservando para si a execução dos estudos preparatórios das mesmas e o recorte das formas usadas como máscaras no traçado das suas estruturas dinâmicas.
Apesar de saírem de uma estrutura rígida, milimetricamente orquestrada – em que o lugar e a função de cada elemento é determinável apenas relativamente ao padrão geral –, a sua pintura interage livremente com o observador, numa aplicação pictórica da frase de Stravinsky, «Quanto mais a arte for controlada, limitada e retrabalhada, mais livre é».*
Ana Vasconcelos
Maio de 2010
* In Frances Spalding, «Bridget Riley and The Poetics of Instability », in Bridget Riley. Paintings from the 1960s and 70s, London, Serpentine Gallery, 1999, p. 19.