Para Hamish Fulton, a fotografia corresponde a um dos meios que lhe permitem registar as solitárias caminhadas, de duração variável, que tem vindo a empreender nos mais diversos locais e que, desde 1973, se tornaram numa condição necessária à realização dos seus projetos artísticos. Assim o esclarece o axioma que orienta a sua estratégia: «no walk, no work». É nesse contexto que a montagem Eyes Flames herbs Chang heart hands feet evoca um trajeto que o artista cumpriu em Ladakh, uma região montanhosa no norte da Índia, durante 12 dias, em Julho de 1984.
Privilegiando uma dimensão vivencial, Fulton recusa assumir-se como fotógrafo ou escultor, apresentando-se como um walking artist, acentuando que é o ato de caminhar que determina a sua produção. À semelhança dos desenhos ou dos escritos que produz durante os seus percursos, a fotografia apenas adquire sentido em correlação com uma experiência de envolvimento direto na paisagem – experiência essa que, através desses registos, é posteriormente reificada e partilhada.
A componente material da obra constitui-se assim como documento de um processo efémero que foi vivido somente pelo próprio artista, sem provocar qualquer alteração na natureza ou deixar vestígios da sua passagem. Nessa medida, a obra não se sobrepõe a esse processo e pretende sobretudo fornecer informação, factual ou subjetiva, capaz de suscitar impressões ou sensações no espetador, ou funcionando como evocação de um trajeto num tempo e num espaço ausentes.
MBA
Outubro de 2011