• 1961
  • Tela
  • Óleo
  • Inv. 83P767

Júlio Pomar

D. Quixote e os Carneiros

Júlio Pomar começa a interessar-se por D. Quixote enquanto tema para a sua produção plástica em finais da década de 50, altura em que realiza ilustrações para esta obra literária.* Será um interesse que perdurará e que conhecerá afinidades e variações em temáticas tauromáquicas e de cavaleiros, as quais começará a desenvolver a partir de então na sua pintura, gravura e escultura.

 

A ilustração que realiza de D. Quixote entre 1957 e 1959 não terá sido alheia às transformações que então ocorrem na sua linguagem plástica. Se observarmos as ditas ilustrações observamos como já aí ensaia uma libertação da estruturação da forma através do desenho em prol de uma estruturação da mesma através da pincelada e da mancha de cor. O mesmo ocorre nas ilustrações que dedica às Novelas Exemplares de Cervantes, em 1958, à poesia de Rodrigues Lobo e ao romance O Barão de Branquinho da Fonseca,  em 1959.**

 

O período que medeia estas obras de D. Quixote e os Carneiros é votado à prossecução desta pesquisa mais gestualista, como o comprovam as telas que então dedica ao universo do cavaleiro manchego: D. Quixote, Dulcineia, O Carro dos Cómicos, Manteação de Sancho, todas realizadas em 1960. O tema é de tal modo omnipresente neste período que lhe dedica inclusivamente duas esculturas em ferro, intituladas D. Quixote I e II.***

 

O episódio desta tela surge no capítulo XVIII da primeira parte de D. Quixote. Nele, D. Quixote toma dois rebanhos de carneiros por exércitos, investido por isso contra eles, o que accionará a resposta dos pastores que começam a arremessar pedras contra o cavaleiro. O momento específico aqui retratado é precisamente a investida de D. Quixote sobre os carneiros. Ocupando dois terços e a centralidade da composição, surge a dupla de D. Quixote e seu cavalo, suspenso num salto sobre os carneiros. No terço inferior são representados os carneiros. A primazia dada à pincelada rápida expressa o movimento da acção representada. O fundo abstracto, de cor clara, faz ressaltar os volumes das figuras em tons escuros, pontuados e animados ritmicamente por pinceladas de branco.

 

Tal como Gustave Doré na gravura que dedica à mesma cena em 1863, Pomar alteia e centraliza as figuras de D. Quixote e seu cavalo sobre o rebanho. Porém, ao contrário deste, não desfaz a ilusão de D. Quixote: o que vemos não são inequivocamente carneiros ou um exército. Como que anuindo, com D. Quixote,  que via “na imaginação o que lhe não mostravam os olhos”****, que a realidade é uma construção da percepção.

 

* Ver Júlio Pomar. Catálogo ‘Raisonné’ I. Pinturas, Ferros e ‘Assemblages’. 1942-1968, Paris, La Différence, 2001-2004, pp. 124-127.

 

** Idem, pp. 112-113, 120-123.

 

*** Idem, pp. 134-137.

 

**** Miguel de Cervantes, D. Quixote de la Mancha, Vol. I, Lisboa, Planeta DeAgostini, 2003, p. 150. Tradução de Viscondes de Castilho e Azevedo.

 

 

 

 

Luísa Cardoso

Fevereiro 2015

TipoValorUnidadesParte
Altura162cm
Largura129cm
Tipo assinatura
TextoPomar
PosiçãoFrente, margem inferior à direita
Tipo data
Texto61-63
PosiçãoFrente, margem inferior à direita
TipoAquisição
DataJulho 1983
Arte Contemporáneo Portugués
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Centro de Arte Moderna, 1987
Catálogo de exposição
Inauguração do CAM
CAM/FCG
Curadoria: A definir
20 de Julho de 1983
Lisboa, Centro de Arte Moderna/ FCG
20 de Julho 1983.
Arte Contemporáneo Portugués
Fundação Calouste Gulbenkian
Curadoria: CAM/FCG
Fevereiro de 1987 a Março de 1987
Madrid, Museo Espanõl de Arte Contemporáneo
Exposição organizada pelo CAM e pelos ministérios dos "Asuntos Exteriores" e da Cultura de Espanha. A exposição apresentou obras da Colecção do Centro de Arte Moderna e de colecções particulares.
Júlio Pomar e a Literatura. Retratos e Ficções
Câmara Municipal de Tavira
Curadoria: Adelaide Giga Tchen
15 de Julho de 2006 a 16 de Setembro de 2006
Palácio da Galeria, Tavira
Exposição realizada com o apoio da Fundação Júlio Pomar.
4º Prémio Amadeo de Souza-Cardoso: Júlio Pomar
Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso
Curadoria: Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso
13 de Setembro de 2003 a 2 de Novembro de 2003
Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso
Exposição realizada no âmbito da atribuição do Prémio Amadeo de Souza-Cardoso ao Mestre Júlio Pomar.
Atualização em 23 janeiro 2015

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