• Papel
  • Gravura sobre cobre
  • Inv. GP122

Júlio Pomar

Corrida

Em 1963 Júlio Pomar muda-se para Paris. A pesquisa em torno da pincelada gestualista, do movimento e da estruturação, percepção e representação do espaço não será abandonada, mas será aplicada às novas experiências com que se depara. Uma das obras consideradas pela crítica e pela historiografia como marcantes desse período será a obra Metro (1964), não só pela representação de um “espaço curvo”,  como pela introdução, inédita, de um objecto numa das suas telas.* 

 

Ao referir-se a essa obra numa entrevista conduzida por João Fernandes, Pomar afirma o seguinte: “Quando decidi viver em Paris tinha a curiosidade natural de ver tudo, de poder ter acesso ao que em Portugal me escapava. Era um passageiro habitual do metro. Ora o espaço do metro, esse espaço que eu passei a frequentar durante uma parte do dia, era geometricamente diferente dos espaços que me tinham sido habituais. Esse túnel, o viver no interior de um espaço curvo, foi uma novidade que se me impôs, um conceito espacial onde passava a ter curso parte da minha vida de todos os dias. A aparição e o peso deste espaço diferente projectaram-se instintivamente no meu trabalho. E tal é visível logo nas primeiras tentativas de pintura em Paris, (…) uma série de pequenas temperas; a estas se seguiu meia-dúzia de telas de diferentes formatos, todas nascidas da obsessão de inserir no quadro a descoberta desse espaço imediatamente apercebido como curvo cujo princípio e fim se projectava para além do campo visual, como se o quadro fosse uma secção dessa forma tubular envolvente.”**

 

Ora, a pesquisa em torno de um espaço curvo começara antes, ainda que em moldes distintos — pois não se trata aqui do espaço tubular de um túnel —, em torno das tauromaquias, concretamente com a experiência do espaço da arena. Numa tela como Cavaleiro e Touro, de 1963***, observamos já o ensaio da representação de um espaço circular. Contudo, na presente gravura, com uma estratégia compositiva semelhante à da referida tela, vemos um elemento adicional na representação desse espaço curvo: a modelação das figuras em movimento nesse espaço, numa adaptação das suas formas ao espaço.

 

Com efeito, os limites circulares da arena são representados, a negro, na parte superior da gravura. O espaço propriamente dito da arena, no qual se inscrevem as figuras, é figurado em tons ocre, aludindo à areia da mesma. Ao centro, o touro investe contra o cavalo, o qual, tombado sobre o seu flanco direito devido ao movimento da corrida, sustenta o cavaleiro no momento em que este, inclinado sobre o touro, lhe crava o ferro no dorso.

 

Movimento, figuração através de uma “pincelada” larga e gestualista e espaço curvo da arena encontram nesta gravura uma perfeita sintonia, fazendo-nos hesitar sobre se as opções da figuração se sujeitam ao espaço curvo ou se é este que, por circunscrever a lide a movimentos circulares, provoca o movimento centrípeto de onde advém esta distorção cinética nas personagens.

 

* Ver Júlio Pomar. Catálogo ‘Raisonné’ I. Pinturas, Ferros e ‘Assemblages’. 1942-1968, Paris, La Différence, 2001-2004, pp. 204-5.

 

** Entrevista de João Fernandes a Júlio Pomar in Júlio Pomar: Cadeia da Relação, Porto, Museu de Serralves/Civilização, 2008, p. 37

 

*** Ver Júlio Pomar. Catálogo ‘Raisonné’ I. Pinturas, Ferros e ‘Assemblages’. 1942-1968, Paris, La Différence, 2001-2004, pp. 190-1.

 

 

 

Luísa Cardoso

Fevereiro 2015

TipoValorUnidadesParte
Largura52,3cmpapel
Altura40,2cmpapel
Altura26,9cmmancha
Largura35,1cmmancha
TipoA definir
DataA definir
Arte Portuguesa 1992
Colónia, Alemanhã, Vista Point Verlag, 1992
ISBN:3 88973 602 5
Catálogo de exposição
Atualização em 23 janeiro 2015

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