A explosão da cor

Durante os anos de 1960, Alan Davie e Harold Cohen preocuparam-se com a utilização da cor de forma sinestésica com um interesse especial no inconsciente, improviso e na música.
Patrícia Rosas 02 ago 2019 3 min
Novas leituras

Constant, de 1962, de Harold Cohen e Smoke Signals no 1, de 1960, de Alan Davie integraram o conjunto de pinturas de artistas britânicos que viajaram diretamente de Londres para Bagdade para serem expostas na Semana Cultural Gulbenkian, em novembro de 1966, no Modern Art Centre de Bagdade.

Durante os anos de 1960, ambos os artistas se preocuparam com a utilização da cor, quer como problema de representação (Harold Cohen) quer com interesse pelo inconsciente, improviso e pela música (Alan Davie). É em torno da abstração, da organização espacial, da explosão cromática e alongando a importância das margens da pintura que estas duas obras recorrem à experimentação da cor na pintura.

 

Harold Cohen, «Constant», 1962. Inv. PE255

 

O dinamismo da pintura, o movimento das formas, a nova conceção do espaço pela larga escala das telas são pontos nevrálgicos que ligam estes artistas e ambas as obras.

Desde o início da sua carreira que Harold Cohen se preocupa com a expressão e emoção potencial da cor. Em Constant, a irregularidade das formas permite ao olho ficar rapidamente comprometido com o contraste entre cores primárias e cores secundárias. Outras obras do mesmo ano exploram esta espacialidade dos efeitos criados por diagonais, simetrias, assimetrias e uma tensão constante entre repetição e variação.

 

Alan Davie, «Smoke Signals n.1», 1960. Inv. PE244

 

Na pintura de Alan Davie há uma preocupação com o gesto, mas também com um estado de espírito xamânico, «pintar de mente vazia», como dizia, num processo de espontaneidade, improviso e marcações rítmicas, tal como no jazz. Davie tocou vários instrumentos, e a seguir à II Guerra Mundial tocou saxofone num grupo de músicos profissionais do jazz viajando pela Europa. O artista referiu: «Há uma relação entre o jazz e o que faço com um pincel: improvisação e acaso».

As suas pinturas são produzidas entre um estado consciente e meio-consciente, aproximando-se de uma arte primitiva: na intuição, com propósitos espirituais e na intensidade da qualidade da dinâmica. Smoke Signals no 1 capta o fumo efémero num amarelo de açafrão: imagens de formas abstratas da realidade mas suspensas num espaço indeterminado. Cigarros, formas microbianas a esvoaçar pela tela, com uma sugestão de uma boca e dentes no canto inferior esquerdo da pintura.

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Nesta rubrica, artistas, curadores, historiadores e investigadores convidados refletem sobre a Coleção do CAM, explorando diferentes perspetivas e criando relações por vezes inesperadas. Partindo de uma obra, de um artista ou de uma temática específica, estes textos propõem novas formas de ver e pensar a Coleção à luz do contexto histórico atual.

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