Aquisições de 2022

Em 2022, a Coleção do CAM continuou a crescer num ritmo que se relaciona com a programação e com iniciativas apoiadas pela Fundação: foram adquiridas 12 obras de arte, complementadas por 4 doações e um legado.
01 fev 2023

A primeira obra adquirida em 2022 foi uma videoinstalação que Julião Sarmento criou, em coautoria com o cineasta Atom Egoyan, para a Bienal de Veneza de 2001. Intitulada Close, a obra deve ser apresentada num corredor estreito onde o observador não vê mais do que um metro da imagem. A sua perceção da imagem sofre, deste modo, uma alteração significativa, criando-se uma intensa situação voyeurística e claustrofóbica.

Ainda ao nível da perceção da imagem e no domínio do cinema, foi incorporada, por doação, uma instalação da artista italiana Rosa Barba, com quem o CAM planeia um importante projeto expositivo. Em Sight Enables Us to Appreciate Distance [A Visão Permite-nos Apreciar a Distância], de 2013-2016, o ecrã coincide com a fonte real das imagens: um texto, composto por 132 metros de película de celuloide, disposto em 24 tiras e iluminado por trás, é posto a correr sobre um suporte retangular bidimensional, cada tira na sua velocidade. A fragmentação da comunicação e da linguagem ganha uma inesperada tridimensionalidade, uma dimensão escultórica e performativa, e o observador é desejavelmente interpelado por um contínuo de questões que se reportam ao modo simultâneo e anacrónico como se estabelece a perceção temporal.

Em relação direta com a programação desenvolvida pelo CAM em 2022, foram adquiridas três obras a Hugo Canoilas, na sequência da exposição-instalação Moldada na Escuridão, e um trabalho sobre papel a Jorge Queiroz, exposto em to go to. Jorge Queiroz | Arshile Gorky. As obras adquiridas a Canoilas reportam-se à poética trabalhada no contexto da exposição-instalação, que propunha uma deambulação penumbrosa pelo fundo de um mar, reconstituído a partir de detritos e da adaptação dos organismos marítimos a esses ecossistemas híbridos, onde, subitamente, presenciávamos o reflexo do nascimento da lua.

 

Hugo Canoilas, «A água da chuva a cair nas bacias oceânicas», 2020-2022. Inv. 22E1962. Foto: Daniel Malhão:
Hugo Canoilas, «Formas de vida simples que regressam ao mar», 2020-2022. Inv. 22E1963. Foto: Daniel Malhão

 

De Queiroz – e no seguimento da aquisição de quatro trabalhos do artista em 2021, que vieram complementar a sua representação diminuta na Coleção do CAM, com apenas duas obras –, adquiriu-se Something in Common 2. Trata-se de uma obra relevante e paradigmática do universo muito particular deste artista contemporâneo que trabalha na esteira dos desenvolvimentos da história da arte do século XX. Herdeiro pós-moderno de correntes simbolistas que operaram transições significativas na criação artística na passagem do século XIX para o XX, Queiroz revisita constantemente vocabulários formais e conceptuais utilizados na criação de imagens e transforma-os habilmente numa utilização só aparentemente caótica. A mão que desenha, e escreve, a ligação entre a arte como cosa mentale e a sua produção material, a presença de fragmentos de corpos, a sugestão de paisagens que canibalizam o espaço formando não-lugares, são apenas algumas das características da sua obra.

Por seu lado, a obra que o CAM adquiriu a Diana Policarpo será apresentada no Espaço Projeto após a reabertura do edifício ao público. Trata-se de um conjunto de quatro vídeos, sob o título genérico de Cigua Tales, embora cada um dos vídeos tenha o seu próprio título. Todos datam de 2022 e constituem uma instalação multimédia de dimensões variáveis, encomendada à artista pelo TBA21–Academy que, juntamente com o CAM e o Instituto Gulbenkian de Ciência, apoiou a sua produção. A obra foi apresentada no Ocean Space, em Veneza, 2022, sob o título The Soul Expanding Ocean #4, e esta apresentação contou com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Diana Policarpo iniciou este projeto com um trabalho realizado nas Ilhas Selvagens, um arquipélago sob administração portuguesa no Atlântico Norte. Utilizando filme e áudio, Policarpo procurou sublinhar um sentido de presença enquanto registava o seu processo de investigação, criando uma dramaturgia na qual percebemos que a ciência está implicada em projetos coloniais e emaranhada em relações de poder.

 

Mónica de Miranda, «Path to the stars», 2022. Inv. 22IM111
Mónica de Miranda, «Path to the stars», 2022. Inv. 22IM111

 

A Mónica de Miranda foi adquirido um vídeo que trabalha a herança pós-colonial da artista nascida em Portugal descendente de angolanos. Parafraseando a descrição fornecida pela galeria da artista, «o filme segue a viagem, do amanhecer ao anoitecer, de uma ex-combatente pela luta de libertação angolana, enquanto viaja de barco pelas margens do rio Kwanza, local de origem do reino do Ndongo, um estado pré-colonial africano tributário do reino do Kongo, criado por subgrupos do Ambundu, e liderado pelo rei Ngola.

Finalmente, as últimas aquisições do ano foram dois trabalhos fotográficos de Paulo Nozolino, um dos quais um díptico, e três trabalhos de Belén Uriel, artista madrilena, desde 2008 radicada entre Portugal e Londres.

 

Belén Uriel, «Quão I», 2022. Inv. 22EE89. Foto: Bruno Lopes
Belén Uriel, «Quão II», 2022. Inv. 22EE90. Foto: Bruno Lopes
Belén Uriel, «Quão I», 2022. Inv. 22EE89. Foto: Bruno Lopes

 

Paulo Nozolino é considerado um dos mais importantes fotógrafos da atualidade, com uma carreira internacional e nacional consolidada através de importantes prémios, publicações e exposições. A aquisição destes seus dois trabalhos permite atualizar a representação, ainda assim reduzida, da obra do artista na Coleção do CAM, antevendo uma possível colaboração. Nozolino fotografa sempre a preto e branco. O texto sobre o artista na galeria que o representa assinala a frontalidade de uma obra «que encara a fotografia como a vida, usando-a tanto para compreender o mundo como a si próprio e levando-a até aos limites das suas interrogações, das suas respostas e das suas vivências. Não há espaço para complacências no seu trabalho. Destruição significa destruição, morte é morte.»

Para finalizar o ano, as três obras de Belén Uriel adquiridas para o CAM levam-nos para o mundo das relações de produção da arte com a indústria, neste caso a indústria portuguesa do vidro. Madrilena de nascimento, Belén Uriel escolheu viver e trabalhar em Lisboa desde 2008 e tem desenvolvido uma obra em torno do legado modernista da arquitetura e do design e da problematização da relação do observador com o espaço expositivo. A aquisição destas obras marca a entrada da artista na coleção.

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