L’Adieu (1920), do ano em que o escultor português Diogo de Macedo voltou para Paris, é geralmente considerado pela historiografia o exemplo mais moderno da sua obra. A peculiar figuração da pose e da indumentária, exaltando a anatomia das figuras, e a emotividade e interioridade da cena que protagonizam, modernizaram certos códigos naturalistas ainda dominantes, exemplo maior da via expressionista de renovação da escultura portuguesa, com ecos evidentes de Bourdelle e de Rodin. L’Adieu retira os motivos formais (como Canto da Maya) de uma certa ideia moderna da escultura grega arcaica – do idealismo do corpo nu à decoração floral na cabeça, – e acentua as tensões para obter o máximo de expressividade nos gestos das figuras e deixar exposta a liberdade dos gestos com que os modelou, com grande efeito táctil.

 

Apesar da intenção metafórica da cena – intitulada L’Adieu ou, L’Adieu ou Le Pardon –, não procura ilustrar a ideia abstrata ou universal, no formato convencional do ícone simbolista. Pelo contrário, em estratégia neorromântica, exprime e sugere a intimidade mais pessoal e intransmissível. O gesto protetor da figura masculina, amparando a figura feminina que o envolve com os braços (que, apesar de cortados, convidam o observador a reconstituir a cena familiar), e, com os olhos fechados e o pescoço esticado, um contra o outro, estão desligados do mundo exterior ao qual se mostram, vibrando de dor e afeto, como desafiando a matéria estanque do bronze. A aceitação da pioneira obra expressionista pela crítica e pelo público foi imediata: copiada em vários modelos de gesso, e circulada em fotografias pelas revistas dessa geração artística marcada por exílios e perdas,* foi-lhe então assegurado o lugar de obra-prima que mantém ainda hoje na história da arte modernista em Portugal.

Afonso Ramos

Março de 2013

 

 

* A imagem encontra-se reproduzida, por exemplo, em Contemporânea, vol. I, nº 1, Abril 1922, ou em Ilustração Portuguesa, Segunda Série, Primeiro Semestre de 1922.