A partir de 1976, altura em que recebe um subsídio de investigação da Fundação Calouste Gulbenkian, Lapa inicia um conjunto de obras denominado Cadernos. Uma série que se constitui como o retrato de um grupo de escritores que têm em comum a escrita como experiência de liberdade e afirmação de individualidade. A este cânone pertence Louis Ferdinand Céline, autor de Viagem ao fim da noite (1932), livro onde introduz inovações na linguagem literária, fazendo uso da oralidade popular, procurando libertar a língua francesa do academismo. Caderno de Céline foi apresentado na exposição Quixote na Bastilha, realizada na Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1993. São páginas de um caderno de escritor, formas rectangulares sobre um fundo monocromático, negro. Estas são delimitadas pela inscrição de três linhas verticais: brancas e trémulas, as laterais, esbatida, a central, atravessadas por um rasto de vermelho-sangue. Neste fundo nocturno, simples e intenso, existe a evocação da narrativa de Céline. Viagem ao fim da noite é um trajecto por uma sociedade em que o destino é a subordinação a uma vida que impede o desenvolvimento do sujeito, um confronto com a mortalidade e a impossibilidade do amor; Caderno de Céline é a expressão dessa visão e da recusa desse mundo.

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