Artistas Portuguesas de 1900 a 2020
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Galeria de Exposições Temporárias Museu Calouste Gulbenkian Galeria Principal Fundação Calouste GulbenkianNomes de referência como Maria Helena Vieira da Silva, Lourdes Castro, Paula Rego, Ana Vieira, Salette Tavares, Helena Almeida, Joana Vasconcelos, Maria José Oliveira, Fernanda Fragateiro, Sónia Almeida e Grada Kilomba, entre muitas outras, estão representadas nesta mostra com pintura, escultura, desenho, objeto, livro, instalação, filme e vídeo, oferecendo ao público uma imagem ampla dos seus respetivos universos artísticos.
O icónico autorretrato de Aurélia de Souza, pintado em 1900, é o ponto de partida para uma reflexão sobre um contexto de criação que durante séculos foi quase exclusivamente masculino. A exposição segue um conjunto de eixos que revelam uma vontade de afirmação das artistas perante os sistemas de consagração dominantes: o olhar, o corpo (o seu corpo, o corpo dos outros, o corpo político), o espaço e o modo como o ocupam (a casa, a natureza, o atelier), a forma como cruzam fronteiras disciplinares (a pintura e a escultura, mas também o vídeo, a performance, o som) ou a determinação com que avançam na utopia de uma construção transformadora, de si mesmas e daquilo que as rodeia.
O título da mostra, Tudo o que eu quero — Artistas portuguesas de 1900 a 2020, inspira-se em Lou Andreas-Salomé, autora que desenvolveu uma das mais notáveis reflexões sobre o lugar das mulheres no espaço social, intelectual, sexual e amoroso dos últimos séculos, situando, assim, as artistas selecionadas no espírito de subtileza, de afirmação e de poder. Contra todos os obstáculos, estas artistas de várias gerações e diferentes sensibilidades conquistaram o seu lugar, pela força da qualidade das suas propostas. Celebrar esta conquista exige resistir à abordagem ilustrativa que uma representação genérica (mulheres artistas) e nacional (portuguesas) sugere. Mas obriga também a que não esqueçamos que, em pleno século XXI, nada está consolidado no que à igualdade de género diz respeito, que estas obras são instâncias de um longo esforço coletivo pelo direito à existência artística plena.
Partindo deste pressuposto, a exposição contribui para sublinhar a importância do reforço do modelo social europeu, umas das prioridades centrais da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, cuja concretização passa também pelo combate às desigualdades e pela valorização da Mulher Artista.
Esta exposição é uma iniciativa do Ministério da Cultura com projeto curatorial da Fundação Gulbenkian. Exibida agora, pela primeira vez, por ocasião da Presidência Portuguesa, será, em 2022, apresentada no Centre de Création Contemporaine Olivier Debré, em Tours, no âmbito do programa geral da Temporada Cruzada Portugal-França.
Curadoria: Helena de Freitas e Bruno Marchand
VÍDEOS
ARTISTAS
Aurélia de Sousa, Mily Possoz, Rosa Ramalho, Maria Lamas, Sarah Affonso, Ofélia Marques, Maria Helena Vieira da Silva, Maria Keil, Salette Tavares, Menez, Ana Hatherly, Lourdes Castro, Helena Almeida, Paula Rego, Maria Antónia Siza, Ana Vieira, Maria José Oliveira, Clara Menéres, Graça Morais, Maria José Aguiar, Luísa Cunha, Rosa Carvalho, Ana Léon, Ângela Ferreira, Joana Rosa, Ana Vidigal, Armanda Duarte, Fernanda Fragateiro, Patrícia Garrido, Gabriela Albergaria, Susanne Themlitz, Grada Kilomba, Maria Capelo, Patrícia Almeida, Joana Vasconcelos, Carla Filipe, Filipa César, Inês Botelho, Isabel Carvalho, Sónia Almeida.
Temas
Feminino Plural
Corpo central
O Olhar e o Espelho
A Palavra
O espaço da escrita
Construção
Le Vivant
A Casa
O Político
Memórias Coletivas
A World of Illusions
As Mulheres do meu País
Quotidiano Vernacular
O Teatro do Corpo
Ouve-me
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O lugar da Artista
Neste primeiro núcleo da exposição, marcam encontro duas pintoras que, à distância de um século, questionam o lugar da mulher na história da arte através de recursos e modos que diríamos opostos.
Trata-se de um jogo entre presença e ausência, recorrente nas estratégias de muitas outras artistas. Aurélia de Sousa interpela e desafia pela marcação obsessiva da sua autorrepresentação; como contraponto, Rosa Carvalho subtrai o modelo feminino à rigorosa citação de obras de referência histórica (Danae, de Rembrandt, 1636-1647; L’Odalisque blonde, de François Boucher, 1751; Portrait de madame Récamier de Jacques-Louis David, 1800), esvaziando a imagem e sabotando o sentido do desejo e voyeurismo masculinos dos originais.
À entrada, Armanda Duarte questiona o lugar, o tempo, a identidade da obra, anunciada como um corpo (cabeça, tronco e membros) que é também uma medida – a sua altura –, desbastada e transformada em pó numa ação performativa que decorre ao longo dos dias da exposição.
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Feminino Plural
Num confronto entre subtileza e provocação, artistas de diferentes gerações abordam o feminino em contextos fechados ou na sua relação com o outro.
As delicadas ficções urbanas de Mily Possoz, os jogos amorosos do tema modernista «les deux amies» de Ofélia Marques, a violência grotesca na figuração dos corpos de Maria Antónia Siza e a provocação sexual das esculturas de Patrícia Garrido e das pinturas de Maria José Aguiar, são instâncias das tensões irreprimíveis entre eros (amor/vida) e thanatos (morte) que este núcleo acolhe.
A pontuar este conjunto, duas obras de Ana Vidigal sublinham a relação dialógica entre a pulsão para a liberdade e a autonomia do feminino e o lugar que a sociedade lhe reserva através da recolha de iconografia de antigas revistas femininas, que lhe ficou da infância.