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Sarah Affonso e a Arte Popular do Minho
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Sem título Sarah Affonso, 1930. Óleo sobre tela. Coleção Particular
O Museu Gulbenkian celebra o 120.º aniversário do nascimento de Sarah Affonso, pintora portuguesa modernista cuja obra tem sido muito pouco investigada e exposta. Muitas vezes recordada como a mulher de Almada Negreiros, é uma artista de nome reconhecido e tem um percurso próprio, de assinalável qualidade, que aqui nos propomos revisitar.
Esta exposição centra-se na particular relação de Sarah Affonso (1899-1983) com a arte e a cultura popular do Minho, que tão fortemente a marcou desde os anos da sua infância e adolescência em Viana do Castelo, entre 1904 e 1915.
Destes anos, a artista guardará na memória o especial caráter da terra minhota, das suas tradições, das feiras, procissões e romarias que ganham protagonismo na sua obra a partir de 1932-1933.
Apesar do retrato ter sido a grande marca autoral da sua obra, a artista abandona este registo, preferindo integrar determinados aspetos do vernáculo minhoto nas suas composições.
A exposição apresenta, em paralelo, as obras de Sarah Affonso com os objetos cerâmicos, têxteis, de ourivesaria, que formam parte do léxico visual que a inspirou e onde se incluem empréstimos de museus e colecionadores portugueses.
O Museu Calouste Gulbenkian associa-se ao Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, que assinala este aniversário com uma exposição sobre a artista, a inaugurar em setembro deste ano.
Curadoria: Ana Vasconcelos
Finissage das exposições de verão
No dia 4 de outubro o Museu realiza uma finissage das exposições de verão, O Gosto Pela Arte Islâmica e Sarah Affonso e a Arte Popular do Minho, com um programa que inclui leituras encenadas, música, mesas-redondas, visitas-expresso com os curadores e designers de exposição, conversas com convidados especiais.
Neste dia, as exposições têm entrada gratuita a partir das 17:00 e até às 24:00.
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VISTA GERAL DA EXPOSIÇÃO






NA IMPRENSA
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A exposição da Gulbenkian aposta nas raízes populares da artista (…), com uma escolha exemplar de figurado de Barcelos, de rocas, fusos, marcas, espadelas e cangas de gado lavradas e gravadas, não esquecendo também a filigrana e o bordado.
Núcleos


Apesar de na segunda metade da década de 1920, Sarah Affonso ter pintado muitos retratos, sobretudo de crianças, além dos irmãos e de diferentes amigos, encontramo-la, no início da década de 1930, interessada em retratos de mulheres onde ganha visibilidade a temática do «popular».
São retratos de mulheres anónimas, que usam lenços na cabeça, e que podem ser classificadas como «mulheres do povo». Contudo, a representação cultiva um carácter próximo do retrato clássico, de grandes personagens, o que lhes confere uma presença quase simbólica (ao mesmo tempo que interroga as características de representação social do retrato antigo).
O poder da pintora retratista reside na captação da presença forte destas figuras, na sugestão da luz, no colorido contrastante entre a figura e o fundo, na harmonização da cor dos lenços com a cor do vestuário, na atenção sabiamente captada do observador para os rostos e as mãos das retratadas que marcam a cadência psicológica do retrato.



Com uma pintura sempre sustentada na importância da figura, Sarah Affonso redescobre o Minho em 1933, considerando-a «uma região à espera de pintores».
São desse ano e até 1936, algumas pinturas que se afastam do tratamento mais clássico do retrato e procuram representar a região e aspetos particulares da sua natureza. Estas obras focam o lado feminino, matriarcal, simultaneamente contemplativo e ativo, dessa mesma natureza que é quase, também, um estado natural. Nelas o tratamento da figura é sumário, voluntariamente pouco acabado, quase tosco, pondo em destaque as mãos e os pés que surgem como instrumentos de trabalho e de contacto com a terra, com as crianças que, por sua vez, ligam as mulheres à fertilidade da terra.