Mario Lucio / Coro e Orquestra Gulbenkian
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Grande Auditório Fundação Calouste GulbenkianEste concerto nasceu da vontade de unir histórias, pessoas, culturas, povos e nações. A música deu o mote. Quando senti e pensei o encontro entre a Orquestra Gulbenkian e mim, não estava apenas a querer realizar uma epopeia estética e pioneira. Impelia-me a partilha luminosa, encontros, desejos de harmonia, intercâmbios e abraços. Escolhi essa via porque dividir o palco é multiplicar afectos. Sentir hoje a música de Cabo Verde abraçada por todo um mar de instrumentos, um arquipélago de timbres e de saberes outros, é ter dois mundos irmanados num abraço.
Esteticamente, projectei que o ambiente, a toada e o sentimento da minha música, a tradicional e a autoral, encontrassem a música do Outro. Sei que a minha música vem de muitas músicas, sei que muitas músicas têm também da minha. A proposta não era trazer a música tradicional, ou popular, para o ambiente sinfónico, nem o inverso, mas, sim, conseguir uma confluência, um enlace. A minha escolha para os arranjos recaiu sobre a franco-boliviana, Élodie Bouny, guitarrista e compositora, a sensibilidade feminina, de mãe, para ouvir e escutar a alma da Morna. Em contraponto, o ilhéu e crioulo Miguel Nuñez, pianista cubano, arranjou as minhas composições mais modernas.
Assim viemos ao encontro da Orquestra e do Coro Gulbenkian, sob a direção do maestro Rui Pinheiro.
A música de Cabo Verde guarda segredos que a escrita ainda desconhece. (Como na própria história da literatura, faltam símbolos para expressar o espírito da oralidade). Dialogando, porém, chegamos lá. Por isso, estamos todos a aperfeiçoar as invenções. O prestígio de uma Orquestra e de um Coro mundialmente reconhecidos, como os da Gulbenkian, constituem, neste caso, um aval para este novo trilho da minha carreira e da nossa música.
Quero Ser Grato às musas e aos músicos, em especial à minha grande amiga Graça Andresen Guimarães, que acalentou esse sonho; à querida Isabel Mota, que o acarinhou; à sempre atenta Maria Helena Borges, que o levou da mão; ao meu sábio amigo Guilherme d’Oliveira Martins, que deu a compreensão ao que já fazia sentido; ao disponível António Lopes Gonçalves, pelo acompanhamento. Todos juntos, já fazemos parte da história da música de Cabo Verde e Universal, porque este concerto é um acontecimento inédito nos nossos registos. Há braços.
A música nossa, por Mario Lucio
O autor escreve segundo a antiga ortografia
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