Jazz em Agosto 2016

Uma programação luxuosa e actual
13 abr 2016

Uma edição de luxo, é o mínimo que podemos dizer do Jazz em Agosto 2016, 33ª edição do festival, coincidindo com os 60 anos da Fundação Calouste Gulbenkian. Onze concertos no anfiteatro ao ar livre, três na Sala Polivalente do Centro de Arte Moderna, três documentários, duas conferências e a apresentação de um livro, asseguram que entre 4 e 14 de Agosto Lisboa é a capital do Jazz.

Se fosse necessário resumir a programação deste ano, o termo escolhido poderia facilmente ser “contemporaneidade”. As escolhas do programador habitual, Rui Neves, assentam numa mostra do que hoje se faz em torno desta música de tantas músicas, com prestações assinadas por alguns dos nomes mais conceituados da actualidade.

As coisas começam da melhor forma, logo a dia 4, com o regresso do guitarrista Marc Ribot (que nos visitou em 2014 com os fantásticos Ceramic Dog), agora com o projecto The Young Philadelphians, formação completada pelo guitarrista Chris Cochrane (figura da cena Downtown New York que tocou com Thurston Moore, Zeena Parkins, John Zorn, Mike Patton, Andrea Centazzo ou Tim Hodgkinson), o histórico baixista Jammaladeen Tacuma, parceiro de Ornette Coleman, e G. Calvin Weston (elemento dos não menos icónicos Lounge Lizards), na bateria. A actuação conta ainda com o Lisbon String Trio, um agrupamento de cordas constituído para o efeito (cujos elementos não foram anunciados). No dia seguinte, Marc Ribot acompanha a solo a projecção do filme Shadows Choose Their Horrors .

Dia 5 chega-nos Tim Berne, e os seus Snakeoil, agora em formato de quinteto (acrescidos do guitarrista Ryan Ferreira) e dia 6, Sábado, começa uma conversa a dois (que termina no dia seguinte), onde Evan Parker e David Toop vão protagonizar uma intervenção sobre músicas antigas e em ameaça de extinção. Na noite de Sábado chega outra ilustre visita, o super-trompetista Peter Evans, que já nos visitou em diversas ocasiões e formações. Desta vez, o trio chama-se Pulverize the Sound, e conta com Tim Dahl (baixo eléctrico) e Mike Pride (bateria). O Domingo encerra com a Eve Risser White Desert Orchestra.

A semana começa a 8, com Tetterapadequ, projecto que junta os italianos Daniele Martini (saxofone) e Giovanni di Domenico (piano) aos portugueses Gonçalo Almeida (contrabaixo) e João Lobo (bateria). Dia 9, novo projecto em estreia, e a ter em atenção: Petite Moutarde, quarteto que reúne o violinista Théo Ceccaldi (presente na edição do Jazz em Agosto 2015, na Orchestre National de Jazz) com Alexandra Grimal (saxofones e voz), Ivan Gélugne (contrabaixo) e Florian Satche (bateria). O quarteto vai tocar por cima de excertos de filmes de René Clair, Marcel Duchamp e Man Ray. Ainda no dia 9, é tempo de mais cinema, com Off the Road (integrado na parceria desenvolvida este ano com a editora RogueArt), que homenageia o contrabaixista alemão Peter Kowald (1944-2002).

Dia 10 voltamos a ter portugueses em palco, integrados no projecto Tuba and Drums Double Duo, em absoluta estreia. Sérgio Carolino alinha na tuba com Oren Marshall (músico de currículo variado, onde surgem Bobby McFerrin, Dereck Bailey, Radiohead, Peter Maxwell, Moondog ou Charlie Haden), enquanto Mário Costa e Alexandre Frazão asseguram as duas baterias. O dia 11 fica marcado por mais um filme da RogueArt, Chicago Improvisations (novamente com Peter Kowald no centro das atenções) e a estreia em Portugal de Ava Mendoza Unnatural Ways, que promete blues, punk, psicadelismo e jazz em ebulição , pela mão da guitarrista (liderando um “power trio”, completado pelo já referido Tim Dahl no baixo e Sam Ospovat, em bateria). Refira-se que Mendoza irá lançar um registo discográfico, ainda este ano, na Tzadik, a icónica chancela de John Zorn.

Dia 12 completa-se a trilogia cinematográfica escolhida para esta edição. E da melhor forma. Electric Ascension live at Guelph Jazz Festival 2012 apresenta a versão alargada que o Rova Saxophone Quartet idealizou para homenagear um dos mais simbólicos álbuns de John Coltrane (projecto acrescentado com músicos como Fred Frith e Nels Cline, e que já passou pelo Jazz em Agosto, em 2006). E é também neste dia que sobe ao palco aquela que poderá ser uma das grandes surpresas do festival, os Z-Country Paradise, que agrupam músicos da Alemanha, Finlândia e Sérvia, liderados pela voz de Jelena Kuljic (que passou por Lisboa em 2015, com o projeto KUU, no festival Jazz im Goethe-Garten, do Instituto Alemão).

O penúltimo dia do festival faz-se com o lançamento de um livro, The Sound of the North – Norway and the European Jazz Scene, (com a presença do autor, o jornalista italiano Luca Vitali) e com dois concertos. O baterista norueguês Paal Nilssen-Love (habitual companheiro de aventuras de Ken Vandermark ou Mats Gustafsson) apresenta-se em solo absoluto, e o projecto Thomas De Pourquery Supersonic presta tributo ao espírito musical de Sun Ra.

O festival termina dia 14. À tarde, mais um concerto a solo, desta feita, por Frank Gratkowski (o saxofonista dos já citados Z-Country Paradise). E á noite, a presença imponente de Paal Nilssen-Love Large Unit, com o baterista à frente de mais 13 músicos, arriscando-se uma noite de força. Pois, que a força esteja connosco, numa edição que tem tudo para demonstrar a vitalidade de um dos mais importantes acontecimentos culturais do nosso país.

 

João Morales

Diário Digital, 13 Abril 2016

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